quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

OS SÍMBOLOS DE NATAL (parte 2)

(continuação da parte 1: Os símbolos de Natal)

Por. Francisco Rubeaux, omi

Na primeira parte da apresentação dos Símbolos de Natal, descrevemos os elementos da Luz, da Estrela e da Árvore.

Nós vamos, com o mesmo propósito, resgatar o sentido do presépio e dos presentes.

Todos nós sabemos que foi São Francisco de Assis que o primeiro idealizou o presépio. Ele quis fazer uma dramatização do Natal de Jesus, um sócio- drama, diríamos hoje. No ano de 1223, Francisco convidou o irmão João a preparar a festa de Natal e por isso montar o primeiro presépio do mundo. “Foi para lembrar o nascimento de Jesus em Belém, os apertos que Ele passou, como foi posto num presépio e ver como ficou em cima da palha entre o boi e o burro... De muitos lugares foram chegando os irmãos, traziam tochas para iluminar a noite. Greccio se tornou umas nova Belém. Ali mesmo no presépio foi celebrada a missa, e todos sentimos uma piedade e alegria natalina como nunca experimentamos até então”.

Mas o interessante é que Francisco soube reencontrar na Bíblia os textos que podiam dar um profundo sentido aos acontecimentos. Vejamos alguns deles.

Maria, José e o Menino Jesus:

“José era da família e descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré na Galiléia até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para recensear-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa” (Lucas 2, 4-7).

Os Anjos: eles representam o mundo divino, e que se unem à terra, humanidade, neste momento tão intenso e único de Deus que se faz um de nós. “Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória de Deus os envolveu em luz... De repente juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus dizendo: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lucas 2, 0 e 13).

Os pastores: eles lembram que os líderes em Israel são chamados “pastor” porque a maioria deles exerceu esta profissão. O pai do povo, Abraão foi pastor nômade, indo de acampamento em acampamento (Gênesis 12, ). Moisés foi pastor em Madião, apascentando os rebanhos do seu sogro (Êxodo 3, ). Davi foi o rei pastor, pois do meio dos seus rebanhos que o Profeta Samuel o escolheu em nome de Deus (1º livro de Samuel ). Jesus será o bom pastor que dá sua vida pelas suas ovelhas: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai” (João 10, 11 e 14). Ele será também o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo: “João Batista viu Jesus que se aproximava dele. Ele disse: Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo... Vendo Jesus que ia passando, apontou: eis o Cordeiro de Deus” (João 1, 29 e 36).


O boi e o burro: é claro que eles têm lugar numa estrebaria. Mas São Francisco conhecia também o texto do Profeta Isaías: “Eu criei e eduquei filhos, mas eles se revoltaram contra mim. O boi conhece o seu proprietário, e o burro a cocheira do seu dono, mas Israel não conhece nada, o meu povo não entende” (Isaías 1, 3). Foi assim o que aconteceu na vinda do Messias, Jesus, o filho de Deus como escreve o Evangelista São João: “Ele veio para a sua casa, mas os seus não O reconheceram” (João 1, 11).

A estrela: ela está acima do presépio. Já falamos dela na primeira parte deste artigo. Ela guiou os Magos até a casa onde estava o Menino e a sua mãe (Mateus 2, ).

Os Magos: já foram apresentados também na primeira parte do nosso artigo. Eles vêm do Oriente (Mesopotâmia) e representam a universalidade da encarnação. Eles foram guiados pelo astro, e confirmados pelas Escrituras, conforme as pesquisas escriturárias dos Escribas de Herodes (Mateus 2, ). Para marcar a universalidade se costumou representar os Magos como negro, branco e moreno, simbolizando as raças humanas. Os comentaristas da Bíblia lembram que, antigamente, o ouro simbolizava a realeza, o incenso a divindade, e a mirra a humanidade. Portanto com estes três presentes Jesus é reconhecido como pessoa humana e divina.

Os outros elementos do presépio: aos poucos com passar do tempo, cada geração cristã aumentou os personagens presentes ao redor do recém- nascido. Assim é costume também colocar imagens das diversas profissões que ocupam as pessoas da comunidade. Coloca-se também um galo, pois o galo anuncia o levantar do sol, e como já vimos Jesus é o sol da justiça que vem aparecendo segundo a profecia de Malaquias (Malaquias 3, 20). Como o galo costuma cantar desde a meia noite, ele lembra que a encarnação se deu à noite, com vimos no livro da Sabedoria (Sabedoria 18, 14-15). A missa celebrada junto ao presépio, como no tempo de São Francisco, é geralmente celebrada a meia noite, e por essa razão é chamada “missa do galo”.

Os presentes:

A celebração do Natal de Jesus suscitou muitos comentários, muitas explicações. Os grandes comentaristas dos textos bíblicos, desde o início da História da Igreja, diziam que Natal é o dia do maior presente, pois o Pai nos dá o seu próprio Filho: “Deus amou de tal forma o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3, 16).

Trocar presente é uma forma de manifestar o amor, o bem querer que as pessoas tem uma para outra. Esses presentes podem ser um simples cartão que recorda o evento e expressa os sentimentos que se tem naquele momento. É também um gesto de gratuidade: se oferece sem nada esperar de volta. O Papa São Leão Magno dizia que no Natal se realiza “um santo comércio”: Deus nos dá o seu Filho e recebe a nossa humanidade. A nossa humanidade recebe do Filho a divindade se tornando filhos e filhas de Deus. É o outro sentido também dos presentes cujo valor não está no valor financeiro, e sim no valor gratuito do amor.


Nós temos muito que aprender deste grande mistério da Encarnação do Senhor Jesus. Possam todos estes símbolos que lembram este evento, nos lembrar também o sentido profundo e verdadeiro do Nascimento de Jesus.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A família nas Escrituras

Por: Francisco Rubeaux, omi

No domingo 26 de dezembro vamos celebrar a festa da Sagrada Família. É uma oportunidade para refletir um pouco sobre o valor da família, ainda mais nos nossos dias em que ela é tão fragmentada. Mesmo que as nossas famílias hoje serão bem diferentes da família de Nazaré, os seus valores permaneçam. Este pequeno estudo será dividido em duas partes para não torná-lo muito pesado... Boa reflexão.

1. A Instituição familiar.

Quando olhamos para a família, podemos olhar de pontos de vista diferentes. Assim aparecem problemas de ordens diferentes: ordem econômica (salários baixos que obrigam os maridos a se ausentar da família para procurar empregos, menores abandonados, migrações, fome...) ordem moral (infidelidade, violência doméstica, prostituição, sexo como mercadoria...) ordem política (não participação na vida da comunidade, machismo, divisões na família)

ordem religiosa (amigados, sem vivência religiosa, seitas entrando nas famílias, despreparo para o matrimônio...)

A família é uma instituição social por que ela é reconhecida juridicamente pela sociedade (cartório, Igreja, casamento oficial...), ela faz parte dos elementos constitutivos da organização social.

Mas uma instituição social não nasce de repente, nem passa a existir por força de lei .É o resultado de uma evolução histórica dentro de uma determinada sociedade.. Uma vez reconhecida e aceita como instituição social, ela passa a ter influência e até força sobre os indivíduos, exerce poder sobre eles. As instituições sociais acabam existindo independentemente da vontade individualizada, de cada cidadão. Mesmo que não se queira que seja assim, é assim porque se trata de um produto social criado historicamente.

Assim, como qualquer instituição social, a família monogâmica não apareceu do nada. Evoluiu-se de outras formas de organizações gâmicas no decorrer da História e no desenvolvimento da complexidade social. A família tal como a conhecemos é conseqüência das formas de organização desenvolvidas pelos homens em seu desenvolvimento socio-econômico. O agrupamento representado pela família é uma necessidade decorrente e determinada pela maneira com a qual o homem se organiza para se sustentar.

Assim houve e há diversos modelos de família.

2. Modelos de Famílias.

Se considerarmos a História da Humanidade em três etapas teremos três tipos de famílias, correspondente a etapas diferenciadas na evolução do agrupamento familiar.

Modelo selvagem (da palavra selva, floresta...). A economia é baseada na caça, na pesca, na colheita de frutos naturais... os seres humanos são nômades à procura de recursos, não há propriedade...o agrupamento familiar é caracterizado pela poligamia generalizada, baseada na consangüinidade. O agrupamento familiar se dá por grupos a partir do sangue. Certos grupos de homens pertencem por inteiro a grupos de mulheres. Trata-se de uma pertença recíproca.

Modelo barbárie (a palavra significa em oposição à etapa posterior “o que não tem civilização”...). A economia é a agricultura de subsistência, a domesticação e criação de animais, a fundição do ferro. Com o cultivo da terra surge a irrigação. O agrupamento familiar é caracterizado pela poligamia com os preferidos. O homem e a mulher começam a habitar temporariamente com os seus preferidos. O homem vive com uma mulher de maneira tal que não lhe é exigido fidelidade. O homem tem direito ao adultério, mas a mulher, não. Os filhos pertencem somente a mãe, mas é preciso que a comunidade saiba de quem ele é o filho.

Modelo da civilização ( da palavra civitas, a cidade.) Este modelo começa mais ou menos no IVº século antes de Cristo. Agora as pessoas têm habitação fixa, são sedentários. O agrupamento familiar é caracterizado pela monogamia que se originou a partir de diversos fatores: consangüinidade (necessidade de reconhecer não somente a mãe, mas também o pai por questão de herança) procriação (necessidade de garantir herdeiros para os bens acumulados) propriedade (necessidade de assegurar a privacidade da propriedade.). Não se casa por amor, mas apenas para garantir favores políticos ou econômicos. O sexo passa a ser mercadoria e reforça o poder do macho. A mulher torna-se escrava do homem.

Existem vários tipos de famílias neste modelo de civilização:

Família aristocrática, caracterizada pela posse de muitas riquezas e grandes propriedades rurais. Os títulos de nobreza servem de elo familiar. O homem tem o poder e a função social da mulher é reunir a família.

Família burguesa, que nasce nos “burgos” ou pequenas povoações fora do domínio dos senhores da terra. Sua base econômica é o comércio, e as grandes indústrias. A monogamia é ligada á riqueza e à propriedade, o elo de ligação entre os seus membros é a economia. O homem reproduz dentro da família o poder do Estado

família proletária, formada sobretudo de operários, o homem trabalha e a mulher fica em casa. O econômico desmentela a família: busca de trabalho, poucos recursos geram as brigas e desentendimentos.

família camponesa, vive no campo e trabalha a terra para se manter. Pai e mãe estão no campo mas os filhos são arrancados da terra para fornecer a mão de obra à cidade. Eles passam assumir a vida da família proletária.

Hoje, assistimos a uma profunda mudança das estruturas familiares.A mulher entrou no mercado do trabalho, o marido toma conta da casa e das crianças. A mulher ganha mais do que o homem. Mulheres preferem viver sozinhas com seus filhos, se tornam independentes. A mulher se liberta do jugo masculino, o pai não dita mais as regras em casa. Aqui intervêm os meios de comunicação social, criando um novo modelo de família segundo as necessidades do novo sistema econômico. E mais uma vez a necessidade de “re-arrumação” do poder começa a ditar “novas” formas de agrupamento familiar.

Na Bíblia encontramos uma parte desta história, e no mesmo tempo encontramos os valores que a fé no Deus Único apresenta na realização da família. Valores que permanecem, os valores da família segundo o Projeto de Deus, qualquer que seja o tipo de agrupamento familiar que a sociedade impõe às pessoas. Mudam os modelos, as formas, continuam os valores. Vamos agora passar a um estudo do tema da família nas Escrituras.

Neste nosso estudo privilegiaremos três momentos que nos parecem mais característicos: no Antigo Testamento, o tempo da Monarquia e o tempo do Pós-Exílio; no Novo Testamento, o tempo das Primeiras Comunidades. Por fim consideraremos a Família no contexto do Reino de Deus.

3. A Família no tempo da Monarquia em Israel.

3.1. A realidade social:

Os Profetas nos revelam que a vida familiar anda bastante abalada: Miquéias 7, 5-6; Jeremias 9,3-5; Oséias 1,2 e 2,4-7.

Está acontecendo a desestruturação da família: Miquéias 2,1-2. Isso acontece por causa do sistema dos Reis (o Direito do Rei) de sua maneira de organizar o povo. De fato podemos aqui lembrar o direito do Rei (1º Samuel 8, 10-18). Com a Monarquia mudou o sentido e a finalidade da relação homem-mulher, e da família em geral. Existem viúvas e órfãos (pessoas sem família) que os Profetas devem defender: Isaías 1,17; Jeremias 7,6; e 22,3. A Monarquia só é interessada no trabalho do homem e na função reprodutiva da mulher, de uma maneira como de outra se trabalha em função do sistema, fornecendo produção cada vez maior para alimentar o comércio e mão de obra barata como força militar para sustentar o novo sistema social.

3.2 A memória subversiva:

Diante desta situação, os Profetas e as pessoas que, em Israel, guardam acesa a chama do projeto de Deus, lembram do tempo passado, lembram do Decálogo (Constituição primeira e fundamental do Povo). Estas pessoas tentam explicar porque existe tal situação, apesar de Javé ser o Deus que libertou da terra do Egito, da casa da servidão.

O DECÁLOGO: Êxodo 20, 12-14-17

Deuteronômio 5, 16-18-21.

Está reafirmado que a família é a célula fundamental da sociedade: pai e mãe são os primeiros líderes que devem ser respeitados, só assim haverá vida. O adultério é proibido porque mostra não só o desrespeito como a desigualdade entre homem e mulher. A relação familiar, de pessoa para pessoa, deve ser de amizade e fraternidade: Não cobiçarás.

O DEUTERONÔMIO:

Esse livro é como uma avaliação da comunidade. Fracassou o Povo de Deus e agora está se perguntando: Por quê?

O Deuteronômio apresenta em forma de leis o que deveria ter sido feito e não foi feito, e por isso a sociedade está toda desmantelada:

Deuteron. 21, 18-21: o filho rebelde.

Deuteron. 22,13 até 23,1: a relação entre homem e mulher é sagrada, não se brinca com a relação sexual.

Deuteron. 24,1-5: o divórcio e o dever do casado.

Levítico 20,8 -21: o bom relacionamento entre parentes faz crescer a família, do contrário tudo desmorona.

Tudo o que está acontecendo foi por esquecimento da Palavra de Deus, palavra orientadora(Torá), esquecimento tanto por parte do Rei como de todos os Israelitas.

O TEMPO IDEAL DA VIDA TRIBAL:

Algumas pessoas vão lembrar também a forma como viviam os antepassados, não por saudosismo, mas para lembrar as características da verdadeira vida familiar na perspectiva do Projeto de Deus.

Lembram que a família patriarcal tem seu esteio no pai de família, assim FAMÍLA se diz “CASA PATERNA” ( bet’ab) O parente mais próximo de uma pessoa é o seu tio paterno (Levítico 25,49)

A família é no mesmo tempo comunidade de sangue e comunidade de habitação. A família é uma casa e fundar uma família diz-se: “construir uma casa”(livro de Neemias 7,4)

A família compõe-se também de servos e servas, de estrangeiros, de viúvas e órfãos para os quais o chefe de família dá proteção. A família assim entendida forma um clã (mispahah) O clã tem interesses e deveres comuns e seus membros são conscientes dos laços de sangue que os unem, por isso chamam-se de irmãos (1º Samuel 20,29.)

A vida religiosa é também vivida a nível familiar: a festa da Páscoa é celebrada no âmbito familiar (Êxodo 12, 3 e 4 e 46) Elcana vai com sua família, todos os anos, em romaria até o santuário de Siló (1º Samuel 1,1-3)

Desse tempo da vida tribal, duas leis, que defendem a família, são também lembradas: a lei do levirato (Deuteronômio 25, 5-10)

a lei do vingador do sangue (Go’el ou redentor, Levítico 25,47)

Quando, na volta do exílio, se tratará de reestruturar o povo e conseqüentemente as famílias, o livro de Rute lembrará a existência destas duas leis antigas.

O DIREITO DO REI NÃO É O PLANO DE DEUS.

Os que escreveram os capítulos 2 e 3 do livro de Gênesis tinham também a preocupação de lembrar o verdadeiro sentido da família segundo o plano criador de Deus.

A situação descrita em Gênesis 3,16-19, é igual à situação criada pela Monarquia, mas por que é assim? Porque alguém quer se igualar a Deus (Gênesis 3,5) e determinar o que é bom e o que é mal, em outras palavras fazer a sua própria lei.

Segundo o plano de Deus, homem e mulher são iguais (Gênesis 2,21-24: ish=homem, isha= mulher.). Eles formam um grupo (família) porque não é bom ficar só (Gênesis 2,18). Mas o direito do Rei, que agora determina o que é bom e o que é mal, desajustou tudo: a sociedade, as famílias que formam essa sociedade.(Isaías 5,20)


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

OS SÍMBOLOS DE NATAL (parte 1)

Por: Francisco Rubeaux, omi



Quantas imagens, quantos símbolos vem ocupar a nossa imaginação neste tempo de preparação ao Natal de Jesus. Vamos tentar resgatar o sentido de algumas destas imagens, procurando o sentido que elas têm com o mistério que celebramos no Natal.


1) A LUZ

O que chama a nossa atenção são, em primeiro lugar, as luzes. Não há um edifício, até árvores da rua que não sejam iluminados. Natal é a festa da luz.

Jesus nasce durante a noite, segundo a Tradição que se fundamenta nos versículos do livro da Sabedoria: “Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite mediava o seu rápido percurso, tua Palavra onipotente lançou-se, guerreiro inexorável, do trono real dos céus para o meio e uma terra de extermínio” (Livro da Sabedoria 18, 14-15). Jesus que nasce na noite é a Luz do mundo... “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas” (João 8, 12). E o velho Simeão, no dia da apresentação de Jesus no Templo, proclamará: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos; luz para iluminar as nações” (Lucas 2, 30-32).

Assim, como o nascimento de Jesus é festejado durante a noite, é preciso iluminar a noite com velas acesas. Jesus vem para iluminar as nossas trevas: “Com a Palavra estava a Vida e a Vida era Luz dos homens. Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la. A luz verdadeira, aquela que ilumina todo homem, estava chegando ao mundo” (João 1, 4-5 e 9). Ele é o sol da justiça anunciado pelo Profeta Malaquias: “Mas para vocês brilhará o sol de justiça, que tem a cura em seus raios” (Malaquias 3, 20).

Têm o mesmo sentido as bolas coloridas que penduramos nas árvores de Natal. Elas iluminam de todas as cores e espalham a alegria. Seria bom se nós colocássemos bolas das cinco cores dos cinco continentes: verde da África, branco da Europa, amarelo da Ásia, azul da Oceania e vermelho das Américas. Jesus é a luz de todas as nações.


2) A ESTRELA

A estrela é outro símbolo de luz, mas ela é também na esperança messiânica dos Judeus, um sinal do Messias. De fato lemos no livro dos Números a profecia de Balão: “Eu o vejo, mas não é agora; eu o contemplo, ãs não de perto: uma estrela avança de Jacó, um cetro se levanta de Israel” (Números 24, 17).

Assim os intérpretes dos Livros Sagrados sempre entenderam que o Messias que Deus enviaria para guiar o seu povo, seria como uma estrela. Nós também hoje dizemos de uma pessoa que ela é uma estrela quando ela se destaca no meio das outras, quando ela tem bastante liderança. Falamos também de alguém cuja fama vai aumentando que “sua estrela está subindo”. Assim, no meio dos Judeus, a estrela se tornou o símbolo do líder que Deus haveria de enviar para governar o seu povo. Como o Evangelista Mateus queria afirmar aos Judeus que Jesus de Nazaré foi bem o Messias esperado, ele escreveu que a sua estrela foi vista: “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, alguns Magos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: onde está o recém-nascido rei dos Judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos para prestar-lhe homenagem... Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia diante deles, até que parou sobre o lugar onde estava o menino... Ao verem de novo a estrela, os Magos ficaram radiantes de alegria” (Mateus 2, 1-2 e 9-10).

Para Mateus Jesus não é somente o Messias, o Líder dos Judeus, Ele é também o Messias, o Líder universal.

Todos nós somos convidados a seguir a estrela que é Jesus se nós quisermos encontrar o caminho que leva ao Pai: “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11, 27).


Bom é notar que no livro de Mateus, os Magos não são nem três, nem reis. São tradições que vieram mais tarde, na tentativa de dar mais detalhes ao acontecimento narrado por Mateus. Esta tradição se apóia no Salmo 72: “Todos os reis se prostrarão diante dele. Que ele viva e lhe seja dado o ouro de Sabá” (Salmo 72, 10-11 e 15). Também o profeta Isaías tem palavras semelhantes: “Uma horda de camelos te inundará, todos virão de Sabá, trazendo ouro e incenso” (Isaías 60, 6). Ademais, na Mesopotâmia (Oriente), os magos eram como astrólogos, estudiosos dos sinais nas estrelas e astros para guiar os reis nas suas decisões e os povos no caminho da prosperidade.

3) A ÁRVORE

O Messias vem par devolver a Vida, e a Vida plena à Humanidade que não soube guardar os caminhos da Vida. No jardim de Éden, a Vida era transmitida por uma árvore, a árvore da Vida: “Deus disse: o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Que ele agora não estenda a mão e colha também da árvore da Vida, e coma, e viva para sempre... Deus expulsou o homem do jardim e colocou diante do jardim os Querubins para guardar o caminho da árvore da vida” (Gênesis 3, 22-24).

Jesus é a árvore da vida, pois é dele que podemos agora receber a vida em plenitude. “Eu sou a verdadeira videira e vocês são os ramos... o ramo que não permanecer unido ao tronco não dá fruto. Ele será cortado e jogado ao fogo, Sem mim nada podeis fazer” (João 15, 1-6).

O Reino de Deus é também uma árvore, frondosa e grande onde os pássaros do céu podem se aninhar (Mateus 13, 32). O justo é como uma árvore plantada na beira do rio: “dá fruto no tempo devido e suas folhas nunca murcham” (Salmo 1, 3).

Quando o reino de Deus for totalmente realizado, então a árvore da Vida estará de novo no meio do jardim, e haverá outras árvores plantadas na beira das águas e estas árvores estarão cheias de vida. “No meio da praça, de cada lado do rio, estão plantadas árvores da vida; elas dão frutos doze vezes por ano; todo mês elas frutificam; suas folhas servem para curar as nações” (Apocalipse 22, 2).Na Europa. A festa de Natal sempre ocorre em pleno inverno, época em que as árvores, na sai maioria, perdem a sua folhagem e ficam desnudadas durante vários meses. A única árvore a permanecer verde é o pinho, e as árvores de sua espécie. Por isso a árvore de Natal é geralmente um pinho: árvore que permanece verde e simboliza a Vida que não se acaba, a Vida trazida por Jesus: “Eu vim para todos tenham vida e vida em abundância” (João 10, 10).


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As quatro velas de Advento.




Quatro velas se consomem lentamente.


Se você for calmo, você poderá ouvi-las falar.



A primeira diz: “Eu sou a PAZ” Ninguém mais quer receber a minha luz. Então é melhor ir embora, e a sua chama se torna cada vez menor até desaparecer!



A segunda diz: “Eu sou a CONFIANÇA”. Entre nós quatro, eu sou a mais ferida e não tem mais sentido para eu continuar de me consumir. Depois que falou, um sopro leve apagou a chama.



Espontaneamente a terceira falou: “Eu sou o AMOR”. Eu não tenho mais força, as pessoas me deixam de lado e não entendem a minha importância. Muitas vezes até esquecem amar os que ficam perto delas. E esta chama também desapareceu



Então uma criança entrou na sala e viu que três velas estavam apagadas. Mas porque elas estão apagadas?



A criança ficou muito triste, então a quarta vela falou: “Não tenha medo, pois enquanto eu estiver acesa, poderemos acender as três outras velas: “Eu sou a ESPERANÇA”


Com olhos brilhantes, a criança apanhou a vela da esperança e reacendeu as três outras


A chama da esperança deve sempre estar conosco a fim de que possamos preservar: confiança, paz e amor em todos os momentos.


ADVENTO

Por: Francisco Rubeaux, omi

“Ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima!”

Com o último domingo do mês de novembro vamos iniciar um novo ano litúrgico. De maneira cíclica, cada ano, revivemos os grandes momentos da história da nossa salvação. O tempo do Advento tem por objetivo de nos colocar nas mesmas atitudes, e mesmos sentimentos que estavam muitas pessoas antes do nascimento de Jesus Cristo. Por isso três pessoas se destacam neste tempo de Advento: o Profeta Isaías, João, o Batista e Maria de Nazaré.

1. Isaías pronunciou muitas profecias em relação ao Messias. Estes oráculos são reunidos nos capítulos 6 a 12 do livro de Isaías, que são chamados “Livro do Emanuel”. O Profeta proclama que Deus não abandona o seu Povo, porque Ele é o “Deus conosco” (= Emanuel). Esta presença amorosa de Deus, sempre ao nosso lado, o Profeta a vê numa criança que será ungida (=Messias). No contexto histórico da época de Isaías, o Profeta se refere, provavelmente, ao nascimento do futuro rei Ezequias. O seu nascimento foi visto como uma prova que Deus não abandonava a dinastia de Davi, mas que sempre cuidaria que houvesse no trono de Judá um descendente de Davi.

A primeira profecia é muito conhecida: “Eis que a virgem dará á luz um filho e ele será chamado: Emanuel- Deus conosco (Isaías 7, 14). Mateus retomou esta profecia para falar do nascimento virginal de Jesus (Mateus 1, 22-23).

A segunda profecia é lida ainda hoje como primeira leitura de missa de Natal: “O Povo que andava nas trevas viu uma grande luz, um menino nasceu, um filho nos foi dado” (Isaías 9, 1).

A terceira profecia descreve a missão desta criança quando crescer: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, sobre ele repousará o Espírito de Deus (Isaías 11, 1).

Jesus será a prova clara e evidente que Deus não abandona o seu Povo, ao contrário lhe revela o seu amor, enviando o seu próprio Filho que manifestará este amor do pai pela sua misericórdia e compaixão. A Encarnação é a plena certeza de que Deus nos quer bem: “Glória a Deus e paz na terra aos homens que Ele ama” (Lucas 2, 14).

2. A outra pessoa que marca este tempo de Advento é João Batista, o maior entre todos os Profetas. Ele espera também a vinda do enviado de Deus, preparando os seus caminhos, preparando os corações para acolher “Aquele que vinha em nome do Senhor”. Além de anunciar a chegada próxima do Messias, ele teve a alegria de designá-lo: “Eu não o conhecia... mas agora eu vi e dou testemunho que é ele: eis o cordeiro de Deus (João 1, 31. 34. 36). Para João sua alegria foi comparável à alegria do amigo do esposo: “Quem tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo que está presente e o ouve, é tomado de alegria à voz do esposo. Essa é a minha alegria, e ela é completa” (João 3, 29).

3. Sem dúvida nenhuma a maior e mais profunda espera foi de Maria de Nazaré. Ela esperava que um dia Deus atenderia os apelos do seu Povo por libertação, era a mística (espiritualidade dos “Pobres de Javé”, os anawim). Mas ela viveu a espera de uma mãe, durante nove meses esperando a criança nascer. Foi a espera de todas as mães até hoje. O Evangelista Lucas que mais nos fala de Maria, silenciou os sentimentos maternos de Maria na espera do nascimento do seu filho. Mas nos deu de conhecer estes sentimentos pelas palavras que ele empresta a Maria no seu hino de louvor: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Sim sua misericórdia perdura de geração em geração, santo é seu nome” (Lucas 1, 46 e 50).

Neste tempo de Advento são estes sentimentos que precisamos reavivar em nós: a confiança que nasce da certeza de que Deus nunca abandona o seu Povo, principalmente o seu povo empobrecido e sofrido. Deus é fiel, não falha nem falta. Temos que aprender a reconhecer os sinais que nos provam esta presença misericordiosa. Ele está no meio de nós, Ele caminha conosco, é o motivo de nossa alegria: “Alegrem-se sempre no Senhor, eu repito alegrem-se” (Filipenses 4, 4). Nossa alegria não é só de esperar sabendo que Deus não falha, mas é alegria se confessar (proclamar0 que de fato Ele veio na pessoa de Jesus de Nazaré e que ele há de vir de novo na sua glória para nos chamar a partilhar plenamente de sua vida. Então sim a nossa alegria será completa e “ninguém poderá tirar dos nossos corações esta alegria” (João 16, 22).

Possamos entrar nos mesmos sentimentos de Isaías, João Batista e Maria e viver com intensidade este tempo de Advento.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Eis a tua mãe...”

A mãe de Jesus no Evangelho segundo São João.

Por: Francisco Rubeaux

No livro do Evangelho segundo São João, ou como costumamos dizer segundo as comunidades de João, encontramos somente dois textos que se referem à mãe de Jesus: João 2, 1-12 e 19, 25-27. É bom notar logo de entrada que nunca a mãe de Jesus é identificada como Maria e sim como Mulher. Vermos o motivo desta identificação.

É importante perceber que os dois textos se correspondem e formam assim uma inclusão literária, ou seja, a mãe de Jesus está no início de sua vida pública (missão do anúncio do Reino) e no fim quando tudo se realiza. O significado de uma inclusão é de chamar atenção do leitor para lhe dizer: a mãe de Jesus está em toda a sua caminhada missionária.

Vamos tentar analisar cada texto no seu próprio conteúdo e depois tentar uma síntese.

1. As bodas de Caná: João 2, 1-12.

O primeiro versículo deste segundo capítulo de João nos desenha logo o quadro do episódio: o tempo, o lugar, o acontecimento e a personagem central.

1.1 Três dias depois da chamada dos primeiros discípulos, Jesus com os seus apóstolos é convidado para uma festa de casamento em Caná da Galiléia. Assim se define o quadro de tempo e de lugar. “Três dias depois” alude ao dia da Ressurreição. Teremos, portanto, que ler e interpretar este texto à luz pascal. João nos descreve o início da missão de Jesus numa semana, seguindo cada passo a cada dia (João 1, 29. 35. 43). Com os três dias de Caná totaliza oito dias, ou seja, uma semana mais um dia. Este último dia é o oitavo, mas também o primeiro de uma nova semana. João iniciou o seu livro com o Prólogo que assim começa: “No princípio...” remetendo às primeiras palavras do livro de Gênesis. Com a pregação do Evangelho que começa, não por palavras e sim por um sinal, João anuncia uma nova semana, uma nova Criação. Quando chegar a hora, esta nova Criação começará no primeiro dia da semana (João 20, 1). Caná será somente um sinal de que vai chegando o tempo da Nova Criação, tempo Messiânicos.

1.2 O ministério de Jesus começa na Galiléia. Nós sabemos o que representa esta terra. É a província definida com “terra dos gentios= pagãos). De fato geograficamente a Galiléia é cercada por países não judeus: Siro-Fenícia, Traconitide, Decápole, Samaria. É nesta terra, impura, que pela primeira vez Deus, em Jesus de Nazaré, vai manifestar a sua Gloria, que é a sua Presença (João 1, 51 e 2, 11). Assim é claro que a manifestação da Glória e conseqüentemente a Salvação é universal. De Sião se espalhará por todas as Nações (Isaías 60, 1 e 3).

1.3 Foi numa festa de casamento. O casamento tanto no Primeiro Testamento como no Segundo é um símbolo forte da Aliança de Deus com o seu Povo. A imagem do casamento sustenta o amor de Deus com a sua Comunidade, às vezes simbolizada pela própria capital: Jerusalém. Assim podemos reler Isaías 62, 5 ou Oséias 2. Paulo, na sua carta aos Efésios, fará do casamento o símbolo do amor de Cristo pela sua Igreja: “Este símbolo é magnífico, e eu o aplico a Cristo e à Igreja. Cristo amou a Igreja e se entregou por ele” (Efésios 5, 32-33). Veremos como os outros símbolos do casamento como a alegria, o vinho, o mestre sala têm também significação neste texto.

1.4 “A mãe de Jesus estava lá”. Ele é a mãe do noivo; “como a coroa que lhe cingiu sua mãe, no dia do seu casamento, dia de festa do seu coração” (Cântico dos C. 3, 11). Esta presença marcante será de novo lembrada no pé da cruz de Jesus: “Junto à cruz de Jesus estava a sua mãe” (João 19, 25). A mãe de Jesus está no início e no fim da trajetória missionária de Jesus, ela presencia a sinal e a realização do casamento de Deus com o seu Povo, a Nova e definitiva Aliança pela qual deus manifestou em Jesus de Nazaré todo o seu amor: “Deus amo=u tanto o mundo que lhe enviou o seu filho único” (João 3, 16).

Mas em Caná da Galiléia a “hora ainda não chegou”, então é somente dado um sinal. A Glória de Deus, a sua Presença, se deu a ver, mas de modo limitado, até que venha a hora em que todos poderão ver e contemplar aquele que foi transpassado (João 19, 37) e reconhecer nele Aquele que vem para salvar (João 8, 27).

Daremos continuidade a esta nossa meditação das Bodas de Caná num próximo artigo. Mas, creio, que só este pequeno estudo já nos dá o valor imenso e a profundidade da mensagem joanina. É também um convite para nós relermos o texto e nós mesmos descobrirmos outras riquezas contidas nesse episódio narrado por João. O texto é fruto de uma constante contemplação da palavra, uma constante releitura feita pelas comunidades. É toda uma geração de irmãs e irmãos na fé que nos fazem assim comungar à sua vida de crentes. A nós também descobrir outras riquezas escondidas que poderão alimentar a nossa fé e vivificar a nossa vida.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A missão nasce no seio de uma comunidade...

Por: Francisco Rubeaux, omi.

Havia em Antioquia, na Igreja local...”

O mês de outubro é tradicionalmente, na Igreja Católica, dedicado às Missões: orar refletir, comprometer-se com a Missão que é a essência da vida de todo batizado e batizada: “Como o Pai me enviou, Eu também lhes envio” (João 20, 21).

Por isso a vocação à missão envolve toda a comunidade. É interessante notar que este mês das missões começa com a celebração da festa de Santa Terezinha do Menino Jesus. Ela é a padroeira das missões como dos missionários e das missionárias.

Nós não podemos deixar de evocar neste mês também a presença maternal de Maria. Ela é a primeira missionária ao levar o filho gerado nela por obra do Espírito Santo até as montanhas de Judá: “Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá” (Lucas 1, 39) Ora neste mês celebramos a festa de N.S. do Rosário, N.S. Aparecida, N.S de Nazaré Que nossa Mãe querida nos abençoe e nos dê do seu vigor missionário para nos por a caminho apressadamente, levando a Boa Nova de Jesus.

A missão sempre se origina no seio de uma comunidade, nenhum missionário é franco atirador, e sim enviado por alguém ou por um grupo.

A missão sai, em primeiro lugar, do seio da Santíssima Trindade, a maior e a melhor Comunidade. É uma decisão comum de enviar alguém, como lembra o livro do Profeta Isaías: “Quem hei de enviar? Quem irá por nós?” (Isaías 6, 8). Jesus, a Palavra encarnada, veio de junto do Pai (João 1, 1) e volta ao seu ponto de partida (João 13, 1). É como a chuva ou a neve: cai do céu, rega a terra e volta para o céu em forma de nuvem, também a Palavra é assim (Isaías 55, 10-11) epodemos acrescentar a Missão também.

É no seio da comunidade que nasce a missão (Atos 13, 1) e a esta comunidade os discípulos voltarão quando terminar sua missão (Atos 14, 27-28). A comunidade está toda envolvida com a missão dos discípulos, não é uma realização pessoal, mesmo que se trate de uma vocação pessoal. A comunidade sente a necessidade de difundir a Boa Nova e por isso envia missionários. Encontramos o mesmo exemplo em Corinto, com a pessoa de Apolo, desejoso de entregar-se à missão, foi encorajado e enviado pela comunidade (Atos 18, 24-28). A partida da segunda viagem de Paulo se dá da mesma maneira: “Paulo por sua vez escolheu Silas, e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor” (Atos 15,40). Timóteo será escolhido e apresentado a Paulo pela sua comunidade de Listra: “Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho de Timóteo. Paulo quis então que Timóteo partisse com ele.” (Atos 16, 1-3). O gesto de participação, de comunhão, é a imposição das mãos (Atos 13, 3).

Todas as viagens missionárias narradas no livro dos Atos têm o mesmo esquema: saem de uma comunidade para voltar à mesma no fim da missão. Cria-se assim um laço de comunhão não somente entre a comunidade e os que ela enviou, mas também entre a comunidade e as novas comunidades fundadas pela ação dos missionários. Essa comunhão entre as comunidades ou Igrejas locais é que dá o sentido profundo daquilo que é a Igreja Católica, espalhada por toda a terra habitada. Cada comunidade é igreja de Jesus, mas todas juntas formam a Igreja Católica, ou seja a Igreja do e no mundo inteiro.

Se a missão origina-se numa comunidade, da mesma forma a missão realiza-se de maneira comunitária. Não precisa insistir no caráter trinitário da missão de Jesus.Mas ao começar a sua missão pública Ele quis, em primeiro lugar, reunir uma equipe. O interessante é que os quatro evangelistas são unânimes a narrar logo antes do início da missão de Jesus, a sua escolha dos primeiros discípulos (Mateus 4, 18-22; Marcos 1, 16-20; João 1, 35-51).

Os Apóstolos também foram enviados dois a dois (Lucas 10,1) e voltaram junto de Jesus para contar o que aconteceu (Lucas 10,17).

Em Antioquia são dois os que foram escolhidos para levar a frente o anúncio da Palavra. Eles vão ainda levar consigo João Marcos. Quando Paulo vai se separar de Barnabé, os dois vão formar novas equipes: Barnabé com João Marcos e Paulo com Silas (Atos 15, 39-40). Em Corinto, Paulo formará equipe com um casal: Áquila e Priscila. Ele terá também como companheiros Timóteo e Silas. Podemos reler o capítulo 16 da carta aos Romanos para perceber quantos companheiros de evangelização trabalharam com Paulo, homens e mulheres (Romanos 16, 1-15 e 21).

A missão sai da comunidade e para lá volta depois de haver suscitado outras comunidades. Percebemos aqui o laço forte que existe entre missiologia e eclesiologia.

Para assumir a missão temos que estar preparado a dizer “Nós”.

Vamos refletir na nossa vocação missionária nos perguntando: qual é a minha comunidade? Como me sinto enviado por ela para a Missão? Como procuro dar retorno da missão a essa comunidade? E nossa comunidade missionária dá espaço para seus membros planejar juntos a missão e relatar como foi realizada?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Igreja Missionária, no livro dos Atos dos Apóstolos (parte 2)

(continuação da parte 1)

4. A missão é universal, porque a comunidade é aberta a todos.

É provavelmente a característica mais visível no livro dos Atos. Já vimos o versículo 8 do capítulo primeiro, que serve até de estrutura a todo o livro. A missão recebida de Jesus pelos Apóstolos é serem testemunhas dele desde Jerusalém, passando pela Judéia e Samaria e até os confins da terra. Essa divisão geográfica permite a organização do livro em três partes:

- Atos 1 a 7: a missão em Jerusalém.

- Atos 8 a 12: a missão na Judéia e na Samaria, incluindo até a Galiléia, como podemos ler em Atos 9, 31.

- Atos 13 a 28: até os confins da terra, que é a capital do Império: Roma.

Sabemos por Romanos15, 23-24, que foi a vontade de Paulo ir até a Espanha, última terra conhecida naquela época. Sempre foi o desejo dos missionários ir o mais longe possível. Paulo escrevia aos Romanos: “Não tendo mais campo para meu trabalho nestas regiões, e desejando há muitos anos chegar até vós irei quando eu for apara a Espanha". (Romanos 15, 23).

A Igreja nasce universal (=Católica). Basta reler a narração do evento de Pentecostes: “Achavam-se em Jerusalém, homens piedosos de todas as nações que há debaixo do céu: Partos, Medos e Elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia limítrofe de Cirene, Romanos adventícios, Judeus e prosélitos, cretenses e árabes.” (Atos 2, 5 e 9-10). Mas a expansão da Palavra não é somente geográfica, de fato, o anúncio da Boa Nova vai penetrando todos os diversos grupos religiosos da época:

  • após o anúncio aso Judeus, a Boa Nova, graças a Filipe, um dos Sete, chega até os Samaritanos (Atos 8, 5). Sabemos que os Samaritanos não eram bem quistos pelos Judeus, mas a Boa Nova é para eles também (Jesus não tinha iniciado essa missão com a Samaritana?).
  • após os Samaritanos a Boa Nova chega também aos Tementes a Deus (pagãos simpatizantes de fé israelita, mas que não aceitam a circuncisão é o caso de Cornélio em Atos 10 1-2 e 24-48).
  • o eunuco, pertencia a um grupo marginalizado pela religião judia, de fato o seu estado físico não lhe permitindo ser circuncidado ele era excluído da comunidade de Israel. Com a pregação de Filipe, ele se converte e é acolhido na nova comunidade, novo Povo de Deus, pelo batismo
  • por fim são os pagãos que recebem a Boa Nova: “Aqueles que haviam sido dispersos devido à tribulação sobrevinda por causa de Estêvão avançaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, a pregavam a Palavra apenas aos Judeus. Havia, contudo, entre eles alguns cipriotas e cireneus que, vindos a Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes a Boa Nova do Senhor Jesus. (Atoa 11, 19-20). Lucas vai dar ênfase a essa nova situação a partir da pregação de Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia: “ Cheios de coragem, Paulo e Barnabé declararam: era primeiro a vós (Judeus) que devíamos anunciar a Palavra de Deus. Como a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, nós nos voltamos para os pagãos.” (Atos 13, 46).

A Palavra anunciando a ressurreição de Cristo anuncia também que um novo mundo é possível. É possível se organizar socialmente a partir de novas relações econômicas, sociais, políticas e religiosas. Assim a missão não é somente anunciar, testemunhar é também construir um mundo novo, que Jesus chamava de Reino de Deus, e que podemos chamar também de novo céu e nova terra, nova sociedade...

O livro dos Atos nos mostra a transformação social operada pela Palavra nas pessoas e no seu modo de viver:

  • Economicamente os discípulos passam a viver a partilha: “Eles se mostravam assíduos à comunhão fraterna, à fração do pão... todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum... partiam o pão pelas casas.” (Atos 2, 42-47). Existe também entre as comunidades uma solidariedade nas necessidades da vida: “Os discípulos decidiram então enviar, cada um conforme as suas posses, auxílios aos irmãos que moravam na Judéia. Assim fizeram, enviando-os aos anciãos por mãos de Barnabé e Saulo.” (Atos 11, 19-20).
  • Socialmente os discípulos vivem como irmãos e irmãs. São laços fraternos que os unem numa mesma comunidade, que por isso é chamada COMUNHÃO. Por isso não tem mais distinção de raça, de cor ou de religião e nem de sexo: todos e todas são iguais e vivem a mesma responsabilidade da missão.
  • Politicamente, ou seja, na maneira de se organizar, a liderança é serviço. Nem os Apóstolos se exaltam ou procuram serem maiores do que os outros porque viram o Senhor. “No momento em que Pedro chegou, Cornélio veio ao seu encontro e, caindo-lhe aos pés, prostrou-se. Pedro, porém, o reergueu dizendo: levanta-te. Eu também sou apenas um homem.” (Atos 10, 25-26).
  • Religiosamente é claro que uma nova relação estabeleceu-se entre Deus e a Humanidade, pois pelo Espírito de Jesus todos e todas são filhos e filhas de Deus. A Boa Nova questiona também as formas religiosas da época: “Não somente em Éfeso, mas em toda a Ásia, este Paulo, com suas persuasões, arrastou uma multidão considerável, afirmando não serem deuses os que saem das mãos dos homens. Isto não só pode lançar o descrédito sobre nossa profissão, mas ainda fazer reputar por nada o santuário da grande deusa Artêmis.” (Atos 19, 23-40).

Assim podemos concluir que no livro dos Atos dos Apóstolos, a missão é uma tarefa específica da comunidade-Igreja. Ninguém pode se desinteressar pelo avanço da Boa Nova, tanto geograficamente como socialmente, nas diversas camadas populacionais e nos diversos setores da vida em sociedade. A Palavra é envolvente.

Os primeiros discípulos têm viva essa consciência, e não delegam a outros esse trabalho missionário. Todos se sentem responsáveis. Além de Pedro ou Paulo, conhecemos também Barnabé, Estêvão, Filipe, Timóteo, Silas, mas também Lídia, Dorcas. Sabemos da existência de uma comunidade cristã em Roma, desde cedo, mas ninguém até hoje sabe com precisão quem foi ou quem foram os evangelizadores da capital do Império. O próprio Paulo ao escrever a essa comunidade de Roma, lembra bom número de evangelizadores, homens e mulheres: “Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, saudai Prisca e Áquila meus colaboradores em Cristo Jesus... Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em Cristo.” (Romanos 16, 1-16).