quarta-feira, 27 de março de 2013

ESPIRITUALIDADE DA SEMANA SANTA.




É bom entrar na espiritualidade dos primeiros cristãos. Como eles releram os acontecimentos dolorosos e os fracassos dos últimos dias da vida de Jesus de Nazaré? Como eles podiam testemunhar da fé num Ressuscitado que tinha sido crucificado? Todos conheciam o livro do Deuteronômio que afirma: "Maldito aquele que morre pendurado a árvore" (Deuteronômio 21, 22-23). Como pregar um Cristo (Messias) crucificado, escândalo e loucura para os sábios e entendidos? (1a carta aos Coríntios 1, 22-23).

1. O livro dos Atos dos Apóstolos guardou para nós um pouco desta reflexão e meditação que ajudou os discípulos e as discípulas de Jesus vencer o desespero, e iluminar a derrota como uma vitória (podemos ler também Lucas 24, 13, os discípulos de Emaús)).

Pedro retoma o Salmo 16, 8-11 em Atos 2, 25-28

O Salmo 118, 22 em Atos 4, 11.

O diácono Filipe catequiza o eunuco (Atos 8, 30-33) a partir de Isaías 53, 7-8

Assim fizeram os Evangelistas: Mateus 27,46; João19, 24 (Salmo 22,19)



Os textos do Antigo Testamento que mais voltam são o Salmo 22 e os quatro cantos do Servo Sofredor.

2. Vamos individualmente reler o Salmo 22 e notar tudo o que deste Salmo pode lembrar momentos da Paixão e Morte de Jesus. Momento de silêncio e de oração pessoal.

3. Um outro texto que marca a espiritualidade da Semana Santa é o chamado hino cristológico da carta de São Paulo aos Filipenses. Vamos reler juntos este texto: Filipenses 2, 5-11.

Canto: Salve, ó Cristo obediente (CD Tríduo Pascal I n.12)



O texto descreve o caminho de salvação realizado em Cristo Jesus:

vers. 6: "Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com

Deus". A primeira atitude de uma espiritualidade é o desapego ao

que somos, ao que temos direito legítimo de ser ou de ter. Jesus

nunca reivindicou a sua condição de Filho de Deus, foi até uma

tentação! Se apegar é se agarrar com força, não querer entregar.

Este desapego é também chamado de humildade: da

palavra "humus", a terra. Ser humilde é ter os dois pés no chão da

realidade, não querer ficar nem mais alto do que é e nem mais baixo

que então seria a falsa humildade...

vers. 7: "Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de

servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim apresentou-se

como simples homem". Esvaziar-se (Kénosis) é aceitar de perder

tudo o que me faz ser "eu". Nós somos tão convencidos de quem

somos ("vai ver quem sou eu!!!")

Jesus se fez "SERVO". Já falamos do Servo Sofredor. Aqui vale a

pena destacar no Evangelho segundo São João o "Lava-pés" (João

13, 3 a 17). Nós o retomaremos na Quinta Feira Santa, na Celebração

da Última Ceia.

O Evangelista a sua maneira nos apresenta o despojamento total de Jesus no ato do lava pés. Ele escreve: "Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura" (João 13, 4). Tirar o manto significa se despojar de sua condição de pessoa de destaque, perder a sua condição de superior e cingir a toalha é cingir a vestimenta do serviço. É bom notar que no fim Jesus retoma o manto, mas guarda a toalha. Ele termina com este conselho de vida para os seus discípulos: "Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês o servo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro maior do que aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática" (João 13, 15-17). É a bem aventurança da prática!



Jesus se abaixou (Kénosis) até os pés dos discípulos. Ele é o Senhor e

Mestre, e não perde esta sua dignidade de Senhor e Mestre, mas ele

mostra uma outra maneira de ser Senhor e Mestre: "Eu vim não para

ser servido e sim para servir e dar a minha vida em resgate para

muitos" (Marcos 10, 45)

O lava pés é como uma encenação do mistério da Encarnação e da Redenção (Paixão-Morte e Ressurreição). É um movimento de descida e de subida. É todo o mistério da vida de Cristo e portanto da vida cristã. Quem quer se elevar para participar da vida divina, deve primeiramente se abaixar, passar pelo mistério de Paixão e Morte.



A carta aos Hebreus nos afirma também que "embora sendo Filho de Deus aprendeu a ser obediente através dos seus sofrimentos" (Hebreus 5, 8). Obedecer é estar sempre á escuta da vontade de Deus (ob-audire). Jesus sempre foi atento à vontade do Pai: "Pai não a minha vontade e sim a tua" (Mateus 26, 39). Alias é assim que a mesma carta aos Hebreus descreve a Encarnação do Filho de Deus: "Eis me aqui, ó Deus, para fazer a tua vontade" (Hebreus 10, 7).





Em forma de conclusão:

Agora podemos entender porque as primeiras comunidades cristãs encontraram nos Cantos do Servo Sofredor de Isaías a chave de leitura da Paixão e Morte de Jesus. Ele deu, pelos seus sofrimentos, pleno sentido ao que o profeta escreveu quinhentos anos antes. Deus envia o seu mensageiro, o seu Messias (Ungido) não como um líder triunfante e poderoso, mas simples e humilde. Infelizmente é uma realidade que continua entre nós. Quantos são os povos sofridos hoje? Quantas pessoas ainda desprezadas, rejeitadas ou como dizemos marginalizadas e excluídas. Mas como afirmava com tanto vigor São Vicente de Paula: “Os pobres são nossos mestres!” É deles que podemos aprender e nos converter para não sermos nem opressor nem explorador.

Mas nós ainda hoje esperamos um Messias glorioso, estamos a fim de um Teologia da Prosperidade, até pessoas por aí afirmam que temos que esquecer e até abandonar a cruz. Jesus Ressuscitou! Mas não podemos esquecer que Ele ressuscitou passando pelo sofrimento e a cruz. A cruz continua para nós o sinal do amor total e sem limites de Deus por nós. "Tendo amado os seus que estavam no mundo ,ele os amou até o extremo(até não poder mais)" (João 13, 1). É a razão pela qual o Apóstolo Paulo escrevia com todo vigor: "Quanto a mim que eu não me glorie, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6, 14).

A espiritualidade pascal é uma espiritualidade do Amor como Ele nos amou. Este foi o último desejo de Jesus:> "Amem-se uns aos outros como Eu vos amei" (João 13, 34-35).

E São João na sua primeira carta poderá concluir: " Se Deus amou com tanto amor, nós devemos também amar os nosso irmãos" (1a de João )



A espiritualidade destes dias santos é uma espiritualidade de entrega total de nós à vontade de Deus. Acolher a vontade do Pai na humildade e no espírito de serviço. Afinal é se esvaziar de nos mesmos para nos encher da Cristo: "Eu vivo , mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregoiu por mim. Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gálatas







Os quatro Cantos do Servo Sofredor segundo o Profeta Isaías.



Quais são os quatro cantos do Servo Sofredor?

O Povo de Deus está exilado na Babilônia. Com a ajuda do Profeta Ezequiel e de um discípulo de Isaías, eles repensam nas suas atitudes e como foram infiéis à Aliança com Deus. Mas continuam certos que tem uma missão no meios dos outros povos de testemunhar do amor infinito de Deus. Não será de uma maneira triunfante mas na humildade e no sacrifício. Assim nascem os quatro cantos do Servidor Sofrido.



1º Canto: Isaías 42, 1-7. Deus escolhe e apresenta o seu servo.

É Deus que toma a iniciativa e chama para a missão de servo o povo do cativeiro. Ninguém mais acreditava naquele povo, nem ele mesmo, só Deus! Este é o jeito de Deus agir e que encontramos em quase todas as páginas da Bíblia. Por meio desta escolha Deus mostrou a sua preferência, ficou do lado dos oprimidos. Mas porque esta escolha que tanto desconserta?

O servo nos é descrito nos versículos seguintes (Isaías 42, 2-4). Neste retrato transparece o valor daquele povo: apesar de machucado, ele não machucava; apesar de oprimido, não oprimia; apesar de injustiçado, não respondia com injustiças. Apesar de todo o seu sofrimento e desânimo, o povo resistia e não se deixava contaminar pelo jeito de viver dos seus opressores. Não se deixou roubar do seu sonho: uma sociedade fundada sobre o direito sem opressores nem oprimidos. Ora quem vive assim, mesmo que não saiba, é um anúncio vivo da Boa Nova que Deus tem para todos. Mesmo sem se dar conta da importância do seu testemunho, o povo do cativeiro já prestava ao mundo o serviço de Deus.

No Exílio, o futuro nasceu do povo pobre, oprimido e desanimado, que apesar de toda a desgraça continuou fiel ao direito e à justiça

Agora vem a missão que recebe de Deus, o serviço para o qual é destinado (Isaías 42, 5-6). Deus se apresenta como o Criador, e o povo poderá sempre contar com esta força criadora de Deus. Ele é Javé, o Deus sempre presente, Ele está sempre ao lado do povo para libertá-lo. Conforme a sua justiça, Deus chama o povo para ser servo, pois é este povo que está segundo o coração de Deus. O povo poderá sempre contar com deus na realização de sua missão. Ele tem consciência clara de ter o apoio de Deus, de estar agindo em nome de Deus, de estar respondendo aos anseios mais profundos dos homens.

2º Canto do Servo: Isaías 49, 1-6

Num primeiro momento o povo do cativeiro reagiu contra o chamado de Deus (Isaías 49, 14). Levou tempo para se convencer que Deus o chamava. Muitos até abandonaram a fé em Javé para assumir as maneiras de viver dos seus opressores, parece que dava mais lucro. Temos o reflexo desta mentalidade em alguns Salmos: “O que Deus tem a ver com tudo isto, se é que Elçe sabe o que se passa conosco. De que serve viver na honestidade? Para que serve guardar limpas as minhas mãos? Para mim chega, vou seguir o exemplo deles!” (Salmo 72, 12-15). A fé no Deus verdadeiro e não um ídolo qualquer, precisava ser recuperada, reaprendida.

Ao redescobrir o jeito de Deus agir, o povo ganha de novo força. Ele descobre que a sua resistência, mesmo fraca e aparentemente sem futuro, é na realidade o que Deus mais gosta nele: “Tu és o meu servo! Tu me trazes muita satisfação!” (Isaías 49, 3). O povo descobre que a sua vocação vem de longe, mas ele não percebia, vem desde o seio materno (Isaías 49, 1). O povo tem que voltar ao projeto inicial do tempo do deserto, quando Deus fez Aliança com os antepassados por intermédio de Moisés. É lá que se encontra o seio materno do povo, é lá que ele foi gerado como povo de Deus. Com os olhos fixos no verdadeiro Deus, o povo encontra de novo força e ânimo: “Fui levado à sério aos olhos do Senhor. Deus se fez a minha força!” (Isaías 49, 4).

Este projeto de vida é para todos os povos da terra e não somente para Israel. Ao começar a viver este projeto de vida, muitos vão se interessar, vai ser esperança para os oprimidos a qualquer povo ou país que eles pertencem. Por isso o segundo canto do Servo começa assim: “Ilhas escutem o que vou dizer! Povos distantes prestem atenção!” (Isaías 40, 1). A mensagem de Boa Nova é universal.

3º Canto do Servo: Isaías 50, 4-9

Agora o povo aceita e assume a sua missão de Servo de Deus. Ele passa à execução da missão. Libertado da imagem falsa de Deus que o impedia de enxergar a realidade com os olhos de Deus, de pensar segundo o jeito de Deus pensar, o povo agora pode escutar o apelo de Deus, descobrir a sua missão de justiça e de libertação, e já começa a executá-la, colocando-se a serviço de Deus e dos irmãos. Ele está atento ao Deus que o conduz, e aos irmãos desanimados que esperam dele uma palavra de conforto (Isaías 50, 4).

O Servo se define como “discípulo de Deus”. Ele tem plena firmeza na sua vocação e na sua missão, não volta para trás. Mas ele está sempre à escuta da vontade de Deus. Ele depende de Deus na execução da missão. Deus traça os caminhos, o Servo executa com o ardor e o entusiasmo de seu coração, e que brota de sua fé no Deus único e verdadeiro.

Olhando a realidade á luz da Palavra de Deus, o povo percebe o que está errado, toma consciência do seu dever como Servo de Deus e começa a transformara realidade de acordo com o projeto de vida recebido de Deus (sua missão). Mas os outros que se aproveitam da situação de exploração e opressão, não querem perder os seus privilégios, seus lucros e começam a reagir a até a perseguir o Servo. Na medida em que o Servo vai em frente, o sofrimento aumenta (Isaías 50, 7). Ele aceita a cruz como caminho de redenção e libertação. O sofrimento faz parte da prática da justiça e do amor.

4º Canto do Servo: Isaías 52, 13 até 53, 12.

É a paixão, morte e vitória do Servo. Como no primeiro canto é Deus mesmo que apresenta o seu Servo. O Servo de Deus derrotado pelo sofrimento, a ponto de não ter mais aparência de gente (Isaías 52, 14), será vitorioso, terá êxito (Isaías 52, 13). Isso não combina com o nosso modo de pensar. Não cabe nas nossas idéias! Como entender uma derrota que é vitória?

O Servo de Deus é, como já vimos, o povo do cativeiro, povo oprimido, sofredor, desfigurado, sem aparência de gente e sem um mínimo de condição humana, povo maltratado, desprezado, evitado pelos outros como se fosse um leproso, condenado como criminoso, sem julgamento e sem defesa.

Nesta desta situação dolorosa, o Servo vive dois grandes valores que são redentores e libertadores: o abandono e o perdão. Na hora mais difícil parece que até Deus nos abandona. Ele parece se retirar da luta e deixa o povo sozinho. Na realidade Ele continua presente, Deus da vida, defendendo e dando vida, a verdadeira vida, aquele que se ganha quando se perde tudo. Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. Neste momento de dor, o povo assume plenamente a sua fé, é dele mesmo e não de Deus, ele toma partido pela vida e oferece a sua vida para que todos tenham vida. Na hora de sofrer e de morrer, a forma de crer na presença do Pai foi crer no dom do Pai que é a vida. Foi crer que aquela sua vida crucificada, abandonada e torturada era mais forte do que o poder de morte que o massacrava. Esta foi e continua sendo a mais alta revelação que Jesus nos fez da presença libertadora do Pai em nossa vida!

Perdoar não é uma reação de recuo e de defesa diante dó mais forte, mas é uma ação criadora, provocado pela vontade de imitar a Deus, o Criador. O perdão vence a injustiça pela raiz, fazendo com que o injusto se torne justo, o inimigo se torne irmão e amigo. Perdoar é o caminho realista para a libertação de todos. O perdão destrói os muros da divisão e restabelece a fraternidade no fundamento da justiça e do direito. Assim o opressor reconhece sua culpa (Isaías 53, 4-6), reconhece que o sofrimento do povo foi causado por ele, e que foi por este povo sofrido que ele foi curado, salvo e liberto de sua situação de opressor.





sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O testamento de um missionário.




"O ministério que eu recebi: dar testemunho do Evangelho da graça de Deus" (Atos 20, 24).

Ao terminar esta série de artigos sobre o livro dos Atos dos Apóstolos e a missão, é bom podermos recolher o testamento do missionário Paulo de Tarso (Atos 20, 17 a 35).

O Apóstolo sabe que está se aproximando o fim da sua missão: "de cidade em cidade o Espírito Santo me adverte dizendo que me aguardam cadeias e tribulações" (Atos 20, 23). Então diante dos anciãos (líderes) da comunidade de Éfeso, reunidos ao seu redor na cidade de Mileto, Paulo faz uma avaliação do seu trabalho missionário. Desde que ele chegou na Província da Ásia ele teve um excelente relacionamento com todos. "Eu servi ao Senhor com toda humildade, com lágrimas e no meio das provações" (Atos 20, 19) O seu ministério sempre ele o considerou como um serviço que ele rendia em primeiro lugar ao Senhor. Por causa do anúncio do Evangelho derramou lágrimas, exortando e animando os novos discípulos: "Durante três anos, dia e noite, não cessei de exortar com lágrimas a cada um de vocês (Atos 20, 31). Evangelizar é um verdadeiro parto, é fazer nascer novos membros para a comunidade-Igreja. O missionário sofre as dores do parto, mas também se alegra quando nasce um novo discípulo, quando surge uma nova comunidade, pois ele sabe e descobre que " há mais felicidade em dar que em receber" (Atos 20, 35).

A relação com os cristãos de Éfeso e com os seus líderes, foi extremamente fraterna: "Nada do que poderia ser útil a vocês deixei de ensinar, que seja em público ou nas casas" (Atos 20, 21). O missionário visita as pessoas de casa em casa, ele se faz próximo dos que ele vem evangelizar. Não podemos esquecer que este lugar da casa foi nas primeiras comunidades o lugar por excelência da reunião, da celebração, da catequese, da convivência dos cristãos (Atos 2, 42-47). Paulo tem consciência que ele desempenhou o seu serviço do evangelho sem segundas intenções de querer se enriquecer ou se promover: "não cobicei prata, ouro, ou vestes de ninguém". Ele recebeu de graça, de graça deu. Ele se comportou assim como Pedro recomendava aos líderes das igrejas: "Apascentai o rebanho de Deus que lhes foi confiado não por torpe ganância" (1a de Pedro 5, 2). Ao contrário Paulo se sustentou e sustentou os seus colaboradores com o trabalho de suas mãos. Ele pode se oferecer como exemplo: "Lhes mostrei que é afadigando-nos assim que devemos ajudar os fracos" (Atos 20, 35).

Depois de sua partida, os líderes deverão continuar a cuidar do rebanho com a mesma postura que viram no Apóstolo. Eles terão, sobretudo, que vigiar. Como bons pastores deverão defender o rebanho do perigo dos lobos. Tem lobos exteriores a comunidade, mas tem os que fazem parte da comunidade. O lobo destrói, massacra as ovelhas. Ao reler as cartas de João, de Tiago, do próprio Paulo, a gente percebe todas as dificuldades que os cristãos deviam enfrentar para permanecer fiéis a sua fé em Cristo Jesus e a sua Palavra.

Por isso o Apóstolo recomenda os discípulos à Deus e à sua Palavra. É lá que encontrarão a força e a sabedoria necessária para conduzir o rebanho pelos caminhos da vida. Paulo terminou o seu combate, ele combateu bem e tem certeza que vai receber a coroa imperecível que Deus em justo juiz lhe entregará (2a a Timóteo 4, 6-8).

Temos em Paulo de Tarso um exemplo de missionário fielmente dedicado à sua missão. Possamos, como ele deseja, sermos os seus imitadores: "sejam os meus imitadores , como eu mesmo o sou de Cristo" (1a aos Coríntios 11, 1). Se conseguirmos isso, então vão não terá sido este pequeno estudo do Livro dos Atos dos Apóstolos.

Pe. Francisco Rubeaux OMI







Nota de esclarecimentos

Caríssimos amigas e amigos seguidores deste Blog,
    A todas e todos devo umas explicações do porque meu Blog ficou mudo tanto tempo...
   A última postagem foi em abril! Eu estive dois meses de férias na França (maio e junho). Ao voltar para o Brasil tive bastante ocupação para por tudo em ordem. Em agosto após o retiro congregacional, os Oblatos do Brail realizaram a sua assembleia anual. Este ano a assembleia era eletiva. Meus irmãos acharam por bem de me eleger novo superior Provincial da Provincia Oblata do Brasil. Tive que arrumar a minha bagagem e de Manaus voltar para São Paulo. Mas até o fim do ano estou tentando responder aos compromissos de duas agendas: a minha, já bem cheia até o fim do ano e a de Provincial que inclui bastante viagens e reuniões. As vezes os compromissos das duas agendas se chocam...então tem que se desdobrar! E com isso pouco tempo fica para o Blog. Mas  quero recomeçar este intercambio de norícias e de informações. E hoje, neste mês das Missões, vou postar um artigo sobre o testamento de um missionário. Não o meu...! mas o de  Paulo de Tarso. Um comentário a partir do texto dos Atos dos Apóstolos 20, 17 a 35.   A todas e todos uma boa leitura, na alegria do reencontro. Fraternal abraço do Pe. Francisco Rubeaux OMI.

sábado, 7 de abril de 2012

A caminho de Emaus

OS DISCÍPULOS DE EMAUS.
(Evangelho segundo Lucas 24, 13 a 35).


1. Caminhar sem reconhecer Jesus junto de nós. (Lucas 24, 13-17).

“Eis que dois dos discípulos de Jesus viajavam neste mesmo dia da Ressurreição, para uma aldeia chamada Emaús, a uns 12 quilômetros de Jerusalém; eles conversavam sobre todos os acontecimentos ocorridos nos dias passados. Ora enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; seus olhos porém, estavam impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes disse:” Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?” E eles pararam, com o rosto sombrio.”

Os dois discípulos estão deixando Jerusalém, estão deixando os outros discípulos, pois todos se dispersaram. Não tem mais comunidade. Tudo está destruído. Os dois estão voltando para a casa, tristes sem esperança nenhuma. É dia, mas no coração é noite: noite da tristeza e da derrota. São incapazes de reconhecer Jesus no companheiro de caminhada. Mas Jesus está sempre por perto, Ele caminha conosco, Ele se interessa por cada um de nós.

E nós, hoje, acontece de nós estarmos tristes e perder a esperança por causa de acontecimentos que perturbam a nossa vida? Nós também fugimos de todos, não queremos mais saber de nada nem de ninguém?

2. Porque tanta tristeza? (Lucas 24, 18-24).

“Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que aconteceu com Jesus de Nazaré, que foi um grande Profeta poderoso em obra e palavra, diante de Deus e diante de todo o povo; nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel; mas , com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram!”

Os dois guardaram de Jesus unicamente a lembrança da cruz. Os poderosos conseguiram apagar nos corações deles a esperança que tinham de uma mudança, da chegada de um Messias, enviado por Deus. Mas os poderosos crucificaram esse sonho. “Nós esperávamos...” Porém, agora não tem mais nenhuma chance, pois já completou três dias que tudo isso aconteceu.

Nós já tivemos decepção na vida? Pensávamos que ia acontecer uma coisa boa para a gente e tudo deu errado. Em relação a Deus, quantas vezes também, a gente esperou e nada veio....Parece que Deus nos abandonou, Ele nos fez esperar e nada aconteceu.

3. Pelo caminho, Jesus explica as Escrituras. (Lucas 24, 25-27).

“Jesus então lhes disse:” Ó insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória”? E começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito.”

Todas as Escrituras: Moisés é o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Eles conhecem as Escrituras mas elas não passaram na vida deles. Eles sabem de cor, eles ouvem sempre as leituras na Sinagoga, mas isso não diz nada para a vida deles. A Palavra de Deus não ilumina os acontecimentos que eles vivem. Os Profetas também anunciaram os sofrimentos do Messias. O Profeta Isaías falou de um Servo Sofredor, cordeiro levado ao matadouro... O Salmo 22 é a oração do justo torturado e humilhado “ eles tiraram as suas vestes e as sortearam....lhe deram vinagre para beber...traspassaram suas mãos e seus pés...”

E nós, hoje, como a Palavra de Deus nos ajuda a caminhar? Tudo que sabemos e ouvimos da Bíblia nos ajuda na nossa vida do dia a dia, ou esquecemos tudo, na hora do aperto? Cantamos que a Palavra de Deus é luz para os nossos passos, é verdade na nossa vida do dia a dia?

4. Na casa, sentado à mesa, Jesus reparte o pão. (Lucas 24, 24-30).

“Eles disseram ao companheiro de viagem: permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina.” Jesus entrou então para ficar com eles. E uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o , depois partiu-o e distribuiu-o a eles. Então seus olhos se abriram e o reconheceram; Ele porém ficou invisível diante deles. E disseram um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?”

Os dois discípulos conviveram com Jesus, conheciam esse gesto característico dele: partir o pão. Era o gesto que ele mesmo tinha deixado como sinal de sua presença: “Fazei isto em memória de mim...” Eles lembraram também o dia da multiplicação dos pães. Partir o pão é o gesto que refresca a memória dos discípulos de Jesus. Ele está presente entre eles, cada vez que eles se reúnem para repartir o pão. Eles também lembram quanto foi bom ouvir a explicação das Escrituras pelo caminho. São as duas coisas que faltavam para eles reencontrar a esperança e o ânimo: reler as Escrituras para iluminar a caminhada, e partir o pão que sustenta a caminhada e garante a presença do Mestre entre nós.

E nós, hoje, quando desanimamos onde procuramos forças? As Escrituras alimentam nossa fé e nossa esperança? Procuramos encontrar o Senhor Jesus na oração ou na Eucaristia? O que nos dá força para continuar a nossa caminhada quando estamos desanimados e tristes?

5. Nas Escrituras explicadas e na partilha do pão: a missão.

“Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros que disseram: “ É verdade! O Senhor ressurgiu e apareceu a Simão!” E eles narraram os acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na fração do pão.” (Lucas 24, 33-35).

Jesus devolveu a esperança e a coragem aos dois discípulos desanimados. Agora, cheios de força, eles voltam para junto dos outros, eles não tem medo de enfrentar a realidade que deixaram em Jerusalém, o lugar da crucificação. É noite, mas eles estão voltando alegres, felizes, pois sabem que o Cristo ressuscitou: os seus corações estão cheios de luz. Eles se sentiram na obrigação de levar logo a boa nova aos demais discípulos, não deixaram para o outro dia.

E nós, hoje, qual é a Boa Nova que temos para anunciar aos irmãos e irmãs mais desanimados do que nós? Como estamos passando para eles a luz e a força da Ressurreição de Jesus?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

FELIZ PÁSCOA

FELIZ PÀSCOA DA RESSURREIÇÃO
"Ele não está aqui, ressurgiu, e Ele está lhes
precedendo na Galiléia, lá o vereis"
(Mateus 28, 6-7)
Amigas, amigos, irmãs e irmãos,
Que a Ressurreição de Jesus continue sendo luz e força nos seus caminhos, Ele está na nossa frente, nos precedendo nas Galiléias de hoje, ou seja nos lugares da marginalidade e da exclusão, no meio dos empobrecidos, é lá que O veremos. Eu peço ao Pai para que todas e todos abramos os nossos olhos para reconhecê-Lo como os discípulos de Emaus: na realidade do dia a dia com nossas alegrias e tristezas, nas Escrituras lidas e interpretadas em comunidade, e na fração do pão eucaristico. Então estaremos prontos para a missão, anunciando em todos os lugares a grande e boa nova: "Jesus ressuscitou, nós o vimos!"
Com grande e saudoso abraço do Pe. Francisco OMI

sexta-feira, 30 de março de 2012

SEMANA SANTA

SEMANA SANTA, PASSO A PASSO COM A BÍBLIA.

A Semana Santa nos faz reviver na nossa realidade de hoje, lá onde nós estamos, os últimos dias da vida terrestre de Jesus. São os dias em que se realizou plenamente a nossa salvação.

“Hosana ao Filho de Davi...” (Mateus 21, 9). A Semana santa abre-se com o domingo dos Ramos. Nós lembramos a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. Todos o aclamam, reconhecendo-o como Messias (Filho de Davi) e pedem que ele “dê a salvação” (Hosana) Para o povo ele vem libertar do jugo dos romanos. Ninguém repara que Jesus fez questão de entrar montado num jumentinho segundo a profecia de Zacarias 9, 9. Ele não monta um cavalo como os reis, pois ele não um chefe de guerra, um libertador militar. Ele vem salvar a humanidade do seu pecado: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo” (João 1, 29). O pecado que vicia toda a organização da sociedade, Jesus vem propor outro projeto de sociedade que ele chama “Reino do Pai”. Decepcionado o povo, na sexta feira, gritará “Crucifica-o” e lhe preferirá um subversivo, um sicário (homem que age com punhal na mão) Barrabás, que pelo menos luta contra o opressor romano. Que tipo de Libertador nós queremos? Qual é o pecado do mundo hoje do qual o Cordeiro deve nos libertar?

“Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês antes de sofrer...” (Lucas 22, 15). Na Quinta feira Santa lembramos a Última Ceia que Jesus quis tomar com os seus discípulos. É a ceia que permanecerá no seio das comunidades até hoje, para lembrar (fazer memória) da vida, da prática, da mensagem de Jesus. Como um bom pastor ele veio dar a sua vida para que todos tenham vida (João 10, 10). Por isso a última Ceia antecipa o dom que Jesus vai fazer de sua vida. Cada Eucaristia renova para nós este gesto de amor “prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão...” (João 15, 13). Segundo o evangelista Lucas, é na Ceia que Jesus afirma que: “Quem é o maior: o que está na mesa ou aquele que serve? Não é aquele que está na mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como aquele que serve” (Lucas 22, 27). Por isso o evangelista João não nos relatará a instituição da Eucaristia, mas o “lava pés”, expressão máxima do que é dar a sua vida. No fim do seu gesto de serviço Jesus nos pede de fazer o mesmo: “Lhes dei o exemplo para que, como eu fiz, também vocês façam” (João 13, 15). Mas a última Ceia é também memória da primeira que se deu na relva verde da Galiléiana época da Páscoa dos Judeus (João 6, 4), quando Jesus repartiu os cinco pães e os dois peixes (Marcos 6, 38-39). Nossas celebrações eucarísticas lembram realmente o que foi a primeira e a última Ceia? Como eu vivo no dia a dia a Eucaristia celebrada? Como me sinto comprometido a fazer como Jesus fez (partilha, lavar os pés, dar a vida)?

Na noite de quinta para sexta nós vigiamos junto com Jesus no Jardim das Oliveiras. “Vigiem! (Mateus 24, 42); Permanecei aqui e vigiem comigo (Mateus 26, 38); Não foram capazes de vigiar comigo por uma hora!” (Mateus 26, 40).

“Não quis saber outra coisa entre vocês a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado “(1ª aos Coríntios 2, 2). “Quanto a mim não aconteça gloriar-me senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo...” (Gálatas 6, 14). A Sexta feira Santa nos dá de acompanhar Jesus nos seus sofrimentos, atualizando esta Paixão do Senhor para nós hoje, nos solidarizando com todos os sofredores de hoje: vítimas da violência, da guerra, do ódio, das calamidades, da fome e da injustiça social. Ao contemplar o Crucificado, contemplamos todos os Crucificados de hoje. Quantos inocentes são vítimas do sistema social no qual vivemos, eles carregam o pecado da sociedade injusta e esmagadora. Eles são os cordeiros de hoje: todos os condenam, mas na realidade são os nossos pecados que eles carregam: “Desprezado, não fazíamos caso nenhum dele. No entanto, eram as nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava” (Isaías 53, 4). A Cruz, instrumento do mais terrível suplício tornou-se, no Calvário, o sinal do maior amor que se conheceu nesta terra. Por isso a Cruz se tornou o sinal da vida cristã: doação total de si por amor, como Jesus. Que sentido tem a cruz na minha vida? Ao ver uma cruz o que penso, o que faço, mexe em minha vida?

Sábado Santo é dia de espera. “Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungi-lo” (Marcos 16, 1). O que não pode ser feito no sábado, as mulheres vão fazê-lo no dia seguinte: ungir o corpo do Senhor, pois ele está bem morto! Nós sabemos que não foi bem assim que terminou a história, por isso é importante nos prepararmos ao ressurgir à VIDA.
Esta preparação culmina com a Vigília da Páscoa. Naquela noite escutamos de novo as Escrituras que nos lembram os grandes momentos da História da Salvação (Criação, libertação...). Nós reafirmamos a nossa vontade de seguir a Jesus, renovando as promessas do nosso Batismo (Romanos 6, 3 e 4; Colossenses 3, 1-4)). Nós irrompemos em cantos de louvor e glória e acabamos celebrando a Eucaristia pela qual fazemos memória de toda esta semana e “O reconhecemos vivo à fração do pão” (Lucas 24, 35).
ALELUIA! (Deus seja louvado): a Vida venceu a morte, porque o amor é mais forte do que a morte (Cântico dos Cânticos 8, 6).

“Porque procuram entre os mortos Aquele que está vivo. Ele não está aqui!” (Lucas 5-6). “Eu vi o Senhor!” (João 20, 18). Pela fé e pelo amor Jesus se dá a ver. A Ressurreição não é provada pela ciência, mas é ato de fé e de amor. Abrem-se os olhos dos que crêem: “Felizes os que não viram e creram” (João 20, 30). “Então os seus olhos se abriram e o reconheceram na fração do pão” (Lucas 24, 31). E nós hoje como reconhecemos a presença de Jesus na nossa vida? Na vida dos que estão perto de nós? Nos acontecimentos do dia a dia?
Nossa fé na Ressurreição se fundamenta no testemunho dos primeiros discípulos e discípulas. É a fé que recebemos da Comunidade eclesial e que transmitimos ao anunciar a Boa Nova: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram. Posteriormente, apareceu a Tiago, e, depois, a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortivo” (1ª aos Coríntios 15, 3-8).
“Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade” (1ª aos Coríntios 5, 7-8).

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Saúde Pública.

"Que a saúde de difunda sobre a terra"
A Campanha da Fraternidade está voltando junto com o tempo da Quaresma. Sabemos que este tempo é tempo de conversão a partir da reflexão e da meditação da Palavra de Deus. Conversão de vida, mudança de atitudes, que partem da mudança de visão e de pensamento (metanoia). A Palavra de Deus vem iluminar o nosso pensar, o nosso sentir e nos provoca à mudanças de comportamento. Mas isso será possível somente se soubermos olhar a realidade, escutar os clamores dos sofredores.
Este ano a Campanha da Fraternidade nos convida a olhar a situação da saúde no nosso país e a escutar os gritos dos que sofrem por não ter atendimento adequado para as suas doenças. È da competência do Governo, tanto federal como estadual ou municipal, oferecer condições dignas para que todos tenham saúde ou, pelo menos, sejam atendidos nas suas dores: é a saúde pública.
Em todos os tempos a saúde pública foi defeituosa. Não é por acaso que foram fundadas tantas Congregações religiosas cujo objetivo era atender os doentes. E até hoje as Paróquias mantêm uma Pastoral da saúde com o intuito de cuidar e acompanhar de mais perto as pessoas de saúde deficiente, ajudá-las nos emaranhados administrativos. A Igreja sempre exerceu neste campo da saúde um trabalho de suplência muito valioso.
Não adiante nada descrever aqui a situação da saúde pública hoje nos nossos municípios ou localidades por menores que sejam. Quem de nós não conhece as filas do SUS, quem não já as enfrentou alta hora da madrugada. Todos nós encontramos destes postos de saúde com aparelhos quebrados ou sem os recursos básicos para os primeiros socorros.
Mas o primeiro passo para a saúde é, sem dúvida, prevenir. E isso depende em parte, de cada um de nós. Sabiamente o livro do Eclesiástico alerta: "Filho, vê o que é nocivo e não to concedas... muitos morreram por intemperança, mas aquele que se cuida prolonga a sua vida" (Eclesiástico 37, 27-31). Temos que saber nos cuidar, nos controlar. Cada um se conhece e sabe o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. Mas como prevenir quando não se tem saneamento básico descente, quando não se tem alimentação equilibrada e suficiente a cada dia, quando a habitação é precária... Saúde envolve outros setores da vida. Aqui também a administração pública tem sua responsabilidade. À nós de saber eleger os nossos representantes e sobretudo cobrar deles no exercício do seu mandato.
Todos nós temos que nos unir para exigir os direitos à saúde, mas também para encontrar meios que permitem que a saúde se difunda por toda a terra. Ao cuidar da saúde continuamos anunciando o Reino que Jesus veio inaugurar. Ele sempre esteve preocupado com os doentes, aliviando suas dores e restaurando as vidas atingidas pela doença. Não é o caso aqui citar todos os textos do Evangelho que nos descrevem esta atenção particular de Jesus com os doentes. Pelos seus gestos como pelas suas palavras de ânimo com os doentes, Jesus anunciava o mundo novo, o Reino de Deus. O mundo novo é o mundo da vida e da vida plena, Neste mundo "não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Na nova cidade no meio da praça, de um lado e do outro do rio, há árvores da vida que frutificam doze vezes, dando fruto a cada mês; e suas folhas servem para curar as nações" (Apocalipse 21, 4 e 22, 2).
Ao lutar por uma saúde pública eficiente estamos construindo o Reino de Deus, estamos desempenhando a nossa missão de batizados. Então, nesta Quaresma, vamos juntar os nossos esforços para alcançar uma melhor organização da saúde, vamos aprender a permanecer vigilantes nas políticas de saúde, pois é uma luta constante até que " a saúde se difunda por toda a terra"