segunda-feira, 19 de abril de 2010

ELE ESTÁ VIVO! NÓS O VIMOS.


Ao chegar ao túmulo no primeiro dia da semana, as mulheres encontraram a pedra do sepulcro removida e o túmulo vazio. Então dois anjos, mensageiros divinos, portadores da ação vitoriosa de Deus lhes disseram: “por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui: ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou quando ainda estava na Galiléia: é preciso que o Filho do Homem seja entregue às mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia” (Lucas 24, 5-7). “Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, ele não está aqui... ele vos precede na Galiléia”.
Ninguém assistiu ao ato da Ressurreição. As únicas provas se encontram num túmulo vazio: ele não está aqui. Esta é a primeira constatação.
Para poder proclamar que Ele está vivo precisa mais do que um túmulo vazio. O Ressuscitado se dá a ver. E as testemunhas destes encontros todas afirmam: “Vimos o Senhor’. É Maria Madalena: “Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: vi o Senhor” (João 20, 18). Mais tarde os Apóstolos afirmaram: “É impossível deixarmos de falar das coisas que temos visto e ouvido” (Atos 4, 20). O Apóstolo São João escreverá na sua primeira carta: “O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam da Palavra da Vida, nós vimos e damos testemunho e vos anunciamos a Vida em plenitude” (1ª de João 1, 1 e 2).
Assim a nossa fé na Ressurreição se baseia no testemunho de pessoas, os Apóstolos, é uma fé apostólica. Mas será que a experiência deles permanece no testemunho? Nós não podemos também ter este encontro com o Ressuscitado? Fazer a nossa experiência do Cristo vivo, como Saulo de Tarso no caminho de Damasco e assim proclamar: “Ele está vivo, nós o vimos!”


1. Onde encontrá-lo? Um lugar...

Os Evangelistas nos dizem que o Ressuscitado nos precede na Galiléia, é lá que poderemos encontrá-lo. É na Galiléia que começou a vida chamada pública de Jesus: “Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galiléia proclamando o Evangelho de Deus” (Marcos 1, 14).
A Galiléia é o lugar da missão, de onde parte a missão. O Ressuscitado está na missão até hoje. Lá onde se proclama o Evangelho de Deus, lá está o Ressuscitado. Na audácia e na firmeza dos evangelizadores o Ressuscitado manifesta a sua força, como a manifestou nos seus discípulos depois de Pentecostes.

Mas a Galiléia tem também um sentido teológico: é o lugar da marginalidade. “Ao ouvir que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galiléia e deixando Nazara foi morar em Cafarnaum, a beira mar nos confins de Zabulon e Neftali para que se cumprisse o que foi dito pelo Profeta Isaías: terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galiléia das nações! “(Mateus 4, 12-15).
Galiléia significa círculo entre os pagãos (Gelil há Goyim). De fato a Galiléia é totalmente cercada por territórios pagãos. Mas é lá que poderemos encontrar o Ressuscitado. Ainda hoje é no meio dos marginalizados, dos excluídos que se encontra Jesus.

2. Como encontrá-lo? Quais são as mediações que revelam a sua presença?

São várias mediações, umas dadas por Jesus, outras vem da experiência dos crentes no decorrer do tempo.

a. Mateus 18, 20
Para o culto sinagogal poder ser realizado era necessária a presença de dez homens. Jesus reduz a dois ou três e garante a sua presença no meio deles. A Presença é o outro nome dado a Deus, é a Shekina.

1ª de João 4, 12
A comunidade fraterna dos irmãos e das irmãs, unidos pelos laços do amor, deste amor que vem de Deus é lugar da presença de Deus. É neste amor fraterno entre os irmãos e as irmãs que todos poderão reconhecer que são discípulos e discípulas de Jesus (João 13, 35).

b. Mateus 25, 37-40
Toda pessoa sofredora é a presença de Jesus entre nós. Pouco importa a nosso julgamento moral ou cultural, elas são o rosto do Crucificado (Servo Sofredor) agora Ressuscitado. Elas são destinadas a ressuscitar também com Cristo e em Cristo.
O exemplo do Bom Samaritano (Lucas 10, 30-37).

Marcos 9, 37
Receber o pequeno (não somente a criança, mas toda pessoa tratada como criança, na época de Jesus era um ser humano excluído, fora da vivência social, assim é com todas as pessoas marginalizadas)

c. Marcos 6, 41-42
Jesus sacia a fome de todos a partir da partilha: juntar tudo o que se tem, por em comum e repartir entre todos.

Marcos 14, 22-25
Na última Ceia, Jesus nos deixa a partilha como “memória” de sua doação total e do seu projeto de vida.

Atos 2, 42-47; 4, 32-35
As primeiras comunidades vivem a partilha e celebram a “fração do pão”, ou seja, fazem memória de Jesus! “Eles o reconheceram a fração do pão” (Lucas 24, 35).

d . Lucas 24, 13-35
Na estrada de Emaus se celebra uma Eucaristia. Jesus escutou as preocupações dos dois discípulos, explica para eles as Escrituras e rompe o pão com eles. Então de olhos abertos eles partem para a missão de anunciar a boa nova: Ele está vivo, nós o reconhecemos ao partir do pão.

1ª aos Coríntios 10, 16-17
Fazer memória de Jesus na Eucaristia é formar um só corpo, uma só comunidade. Segundo o antigo adágio: “A Igreja faz a Eucaristia, a Eucaristia faz a Igreja”. É indissociável a Eucaristia da comunidade, que é comunhão. Neste sentido é lembrar também a prática de Jesus. Ele praticou a partilha (Marcos 6, 34-44), a fraternidade (Mateus 23, 1-12) , o serviço (Marcos 10, 41-45) e a conscientização, ou seja permitir ao outro ser livre (Lucas 13, 10-17). Por isso na mesma 1ª carta de Paulo aos Coríntios, Paulo adverte os Coríntios que eles devem viver com respeito à Ceia do Senhor. Esta Ceia não pode ser distinta da partilha entre os membros de uma mesma comunidade (1ª aos Coríntios 11, 17-27).


e. João 14, 21-23
O discípulo amado (quem guarda e observa os mandamentos) é sacrário da presença divina (Shekina). Saber reconhecer no outro a presença do Deus vivo. Não basta reverenciar o Santíssimo no sacrário do altar, tem que reverenciar a imagem de Deus que está em cada pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus. O Ressuscitado está presente na pessoa

f. Lucas 1, 1-4
A Palavra de Jesus permanece entre os seus discípulos. Ela é também memória de tudo o que ele fez e disse (Atos 1, 1). Ela é uma Palavra viva (Hebreus 4, 12-13). Não é letra morta e sim espírito que dá a vida (2ª aos coríntios 3, 6). Por isso é importante saber ler e escutar o que a Palavra me diz hoje na minha realidade de vida. Sua Palavra é espírito e vida (João 6, 63).

g. Mateus 28, 20
O Ressuscitado está na missão conosco: “Eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos”. A missão é lugar também de encontro com o Ressuscitado. È no nome dele que anunciamos a Boa Nova, é Ele que nós testemunhamos na missão. Assim o mostra o livro dos Atos dos Apóstolos, mas o acontecimento mais significativo é a visão (revelação=apocalipse: Gálatas 1, 12) de Saulo de Tarso a caminho de Damasco. Ele viu o Senhor ressuscitado como afirmará com vigor nas suas cartas para se defender de ser apóstolo sem ter conhecido Jesus na sua vida terrestre. O Ressuscitado sustenta a missão e encoraja: “Não temas; porém continua a falar, e não te cales., porque estou contigo” (Atos 18, 9-11).

A espiritualidade pascal é por excelência a espiritualidade batismal. Nós ouvimos na vigília da Páscoa que quem é batizado, é batizado na morte e na ressurreição de Cristo: morto ao pecado para ressurgir a uma novidade de vida (Romanos 6, 3-4).
Portanto acrescenta ainda o Apóstolo Paulo: “Se, pois, ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas do alto” (Colossences 3, 1-4).
A espiritualidade pascal e batismal nos leva, pela força do Espírito para uma vida diferente, uma vida consagrada aos conselhos evangélicos. É isso que é o projeto de vida religiosa ao qual pretendemos aderir.

“Conhecer o poder da sua Ressurreição e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se eu alcanço a Ressurreição de entre os mortos” (Filipenses 3, 10-11)

Pe. Francisco Rubeaux, omi