Por: Francisco Rubeaux, omi.
“Havia em Antioquia, na Igreja local...”
O mês de outubro é tradicionalmente, na Igreja Católica, dedicado às Missões: orar refletir, comprometer-se com a Missão que é a essência da vida de todo batizado e batizada: “Como o Pai me enviou, Eu também lhes envio” (João 20, 21).
Por isso a vocação à missão envolve toda a comunidade. É interessante notar que este mês das missões começa com a celebração da festa de Santa Terezinha do Menino Jesus. Ela é a padroeira das missões como dos missionários e das missionárias.
Nós não podemos deixar de evocar neste mês também a presença maternal de Maria. Ela é a primeira missionária ao levar o filho gerado nela por obra do Espírito Santo até as montanhas de Judá: “Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá” (Lucas 1, 39) Ora neste mês celebramos a festa de N.S. do Rosário, N.S. Aparecida, N.S de Nazaré Que nossa Mãe querida nos abençoe e nos dê do seu vigor missionário para nos por a caminho apressadamente, levando a Boa Nova de Jesus.
A missão sempre se origina no seio de uma comunidade, nenhum missionário é franco atirador, e sim enviado por alguém ou por um grupo.
A missão sai, em primeiro lugar, do seio da Santíssima Trindade, a maior e a melhor Comunidade. É uma decisão comum de enviar alguém, como lembra o livro do Profeta Isaías: “Quem hei de enviar? Quem irá por nós?” (Isaías 6, 8). Jesus, a Palavra encarnada, veio de junto do Pai (João 1, 1) e volta ao seu ponto de partida (João 13, 1). É como a chuva ou a neve: cai do céu, rega a terra e volta para o céu em forma de nuvem, também a Palavra é assim (Isaías 55, 10-11) epodemos acrescentar a Missão também.
É no seio da comunidade que nasce a missão (Atos 13, 1) e a esta comunidade os discípulos voltarão quando terminar sua missão (Atos 14, 27-28). A comunidade está toda envolvida com a missão dos discípulos, não é uma realização pessoal, mesmo que se trate de uma vocação pessoal. A comunidade sente a necessidade de difundir a Boa Nova e por isso envia missionários. Encontramos o mesmo exemplo em Corinto, com a pessoa de Apolo, desejoso de entregar-se à missão, foi encorajado e enviado pela comunidade (Atos 18, 24-28). A partida da segunda viagem de Paulo se dá da mesma maneira: “Paulo por sua vez escolheu Silas, e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor” (Atos 15,40). Timóteo será escolhido e apresentado a Paulo pela sua comunidade de Listra: “Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho de Timóteo. Paulo quis então que Timóteo partisse com ele.” (Atos 16, 1-3). O gesto de participação, de comunhão, é a imposição das mãos (Atos 13, 3).
Todas as viagens missionárias narradas no livro dos Atos têm o mesmo esquema: saem de uma comunidade para voltar à mesma no fim da missão. Cria-se assim um laço de comunhão não somente entre a comunidade e os que ela enviou, mas também entre a comunidade e as novas comunidades fundadas pela ação dos missionários. Essa comunhão entre as comunidades ou Igrejas locais é que dá o sentido profundo daquilo que é a Igreja Católica, espalhada por toda a terra habitada. Cada comunidade é igreja de Jesus, mas todas juntas formam a Igreja Católica, ou seja a Igreja do e no mundo inteiro.
Se a missão origina-se numa comunidade, da mesma forma a missão realiza-se de maneira comunitária. Não precisa insistir no caráter trinitário da missão de Jesus.Mas ao começar a sua missão pública Ele quis, em primeiro lugar, reunir uma equipe. O interessante é que os quatro evangelistas são unânimes a narrar logo antes do início da missão de Jesus, a sua escolha dos primeiros discípulos (Mateus 4, 18-22; Marcos 1, 16-20; João 1, 35-51).
Os Apóstolos também foram enviados dois a dois (Lucas 10,1) e voltaram junto de Jesus para contar o que aconteceu (Lucas 10,17).
Em Antioquia são dois os que foram escolhidos para levar a frente o anúncio da Palavra. Eles vão ainda levar consigo João Marcos. Quando Paulo vai se separar de Barnabé, os dois vão formar novas equipes: Barnabé com João Marcos e Paulo com Silas (Atos 15, 39-40). Em Corinto, Paulo formará equipe com um casal: Áquila e Priscila. Ele terá também como companheiros Timóteo e Silas. Podemos reler o capítulo 16 da carta aos Romanos para perceber quantos companheiros de evangelização trabalharam com Paulo, homens e mulheres (Romanos 16, 1-15 e 21).
A missão sai da comunidade e para lá volta depois de haver suscitado outras comunidades. Percebemos aqui o laço forte que existe entre missiologia e eclesiologia.
Para assumir a missão temos que estar preparado a dizer “Nós”.
Vamos refletir na nossa vocação missionária nos perguntando: qual é a minha comunidade? Como me sinto enviado por ela para a Missão? Como procuro dar retorno da missão a essa comunidade? E nossa comunidade missionária dá espaço para seus membros planejar juntos a missão e relatar como foi realizada?
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