segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As quatro velas de Advento.




Quatro velas se consomem lentamente.


Se você for calmo, você poderá ouvi-las falar.



A primeira diz: “Eu sou a PAZ” Ninguém mais quer receber a minha luz. Então é melhor ir embora, e a sua chama se torna cada vez menor até desaparecer!



A segunda diz: “Eu sou a CONFIANÇA”. Entre nós quatro, eu sou a mais ferida e não tem mais sentido para eu continuar de me consumir. Depois que falou, um sopro leve apagou a chama.



Espontaneamente a terceira falou: “Eu sou o AMOR”. Eu não tenho mais força, as pessoas me deixam de lado e não entendem a minha importância. Muitas vezes até esquecem amar os que ficam perto delas. E esta chama também desapareceu



Então uma criança entrou na sala e viu que três velas estavam apagadas. Mas porque elas estão apagadas?



A criança ficou muito triste, então a quarta vela falou: “Não tenha medo, pois enquanto eu estiver acesa, poderemos acender as três outras velas: “Eu sou a ESPERANÇA”


Com olhos brilhantes, a criança apanhou a vela da esperança e reacendeu as três outras


A chama da esperança deve sempre estar conosco a fim de que possamos preservar: confiança, paz e amor em todos os momentos.


ADVENTO

Por: Francisco Rubeaux, omi

“Ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima!”

Com o último domingo do mês de novembro vamos iniciar um novo ano litúrgico. De maneira cíclica, cada ano, revivemos os grandes momentos da história da nossa salvação. O tempo do Advento tem por objetivo de nos colocar nas mesmas atitudes, e mesmos sentimentos que estavam muitas pessoas antes do nascimento de Jesus Cristo. Por isso três pessoas se destacam neste tempo de Advento: o Profeta Isaías, João, o Batista e Maria de Nazaré.

1. Isaías pronunciou muitas profecias em relação ao Messias. Estes oráculos são reunidos nos capítulos 6 a 12 do livro de Isaías, que são chamados “Livro do Emanuel”. O Profeta proclama que Deus não abandona o seu Povo, porque Ele é o “Deus conosco” (= Emanuel). Esta presença amorosa de Deus, sempre ao nosso lado, o Profeta a vê numa criança que será ungida (=Messias). No contexto histórico da época de Isaías, o Profeta se refere, provavelmente, ao nascimento do futuro rei Ezequias. O seu nascimento foi visto como uma prova que Deus não abandonava a dinastia de Davi, mas que sempre cuidaria que houvesse no trono de Judá um descendente de Davi.

A primeira profecia é muito conhecida: “Eis que a virgem dará á luz um filho e ele será chamado: Emanuel- Deus conosco (Isaías 7, 14). Mateus retomou esta profecia para falar do nascimento virginal de Jesus (Mateus 1, 22-23).

A segunda profecia é lida ainda hoje como primeira leitura de missa de Natal: “O Povo que andava nas trevas viu uma grande luz, um menino nasceu, um filho nos foi dado” (Isaías 9, 1).

A terceira profecia descreve a missão desta criança quando crescer: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, sobre ele repousará o Espírito de Deus (Isaías 11, 1).

Jesus será a prova clara e evidente que Deus não abandona o seu Povo, ao contrário lhe revela o seu amor, enviando o seu próprio Filho que manifestará este amor do pai pela sua misericórdia e compaixão. A Encarnação é a plena certeza de que Deus nos quer bem: “Glória a Deus e paz na terra aos homens que Ele ama” (Lucas 2, 14).

2. A outra pessoa que marca este tempo de Advento é João Batista, o maior entre todos os Profetas. Ele espera também a vinda do enviado de Deus, preparando os seus caminhos, preparando os corações para acolher “Aquele que vinha em nome do Senhor”. Além de anunciar a chegada próxima do Messias, ele teve a alegria de designá-lo: “Eu não o conhecia... mas agora eu vi e dou testemunho que é ele: eis o cordeiro de Deus (João 1, 31. 34. 36). Para João sua alegria foi comparável à alegria do amigo do esposo: “Quem tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo que está presente e o ouve, é tomado de alegria à voz do esposo. Essa é a minha alegria, e ela é completa” (João 3, 29).

3. Sem dúvida nenhuma a maior e mais profunda espera foi de Maria de Nazaré. Ela esperava que um dia Deus atenderia os apelos do seu Povo por libertação, era a mística (espiritualidade dos “Pobres de Javé”, os anawim). Mas ela viveu a espera de uma mãe, durante nove meses esperando a criança nascer. Foi a espera de todas as mães até hoje. O Evangelista Lucas que mais nos fala de Maria, silenciou os sentimentos maternos de Maria na espera do nascimento do seu filho. Mas nos deu de conhecer estes sentimentos pelas palavras que ele empresta a Maria no seu hino de louvor: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Sim sua misericórdia perdura de geração em geração, santo é seu nome” (Lucas 1, 46 e 50).

Neste tempo de Advento são estes sentimentos que precisamos reavivar em nós: a confiança que nasce da certeza de que Deus nunca abandona o seu Povo, principalmente o seu povo empobrecido e sofrido. Deus é fiel, não falha nem falta. Temos que aprender a reconhecer os sinais que nos provam esta presença misericordiosa. Ele está no meio de nós, Ele caminha conosco, é o motivo de nossa alegria: “Alegrem-se sempre no Senhor, eu repito alegrem-se” (Filipenses 4, 4). Nossa alegria não é só de esperar sabendo que Deus não falha, mas é alegria se confessar (proclamar0 que de fato Ele veio na pessoa de Jesus de Nazaré e que ele há de vir de novo na sua glória para nos chamar a partilhar plenamente de sua vida. Então sim a nossa alegria será completa e “ninguém poderá tirar dos nossos corações esta alegria” (João 16, 22).

Possamos entrar nos mesmos sentimentos de Isaías, João Batista e Maria e viver com intensidade este tempo de Advento.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Eis a tua mãe...”

A mãe de Jesus no Evangelho segundo São João.

Por: Francisco Rubeaux

No livro do Evangelho segundo São João, ou como costumamos dizer segundo as comunidades de João, encontramos somente dois textos que se referem à mãe de Jesus: João 2, 1-12 e 19, 25-27. É bom notar logo de entrada que nunca a mãe de Jesus é identificada como Maria e sim como Mulher. Vermos o motivo desta identificação.

É importante perceber que os dois textos se correspondem e formam assim uma inclusão literária, ou seja, a mãe de Jesus está no início de sua vida pública (missão do anúncio do Reino) e no fim quando tudo se realiza. O significado de uma inclusão é de chamar atenção do leitor para lhe dizer: a mãe de Jesus está em toda a sua caminhada missionária.

Vamos tentar analisar cada texto no seu próprio conteúdo e depois tentar uma síntese.

1. As bodas de Caná: João 2, 1-12.

O primeiro versículo deste segundo capítulo de João nos desenha logo o quadro do episódio: o tempo, o lugar, o acontecimento e a personagem central.

1.1 Três dias depois da chamada dos primeiros discípulos, Jesus com os seus apóstolos é convidado para uma festa de casamento em Caná da Galiléia. Assim se define o quadro de tempo e de lugar. “Três dias depois” alude ao dia da Ressurreição. Teremos, portanto, que ler e interpretar este texto à luz pascal. João nos descreve o início da missão de Jesus numa semana, seguindo cada passo a cada dia (João 1, 29. 35. 43). Com os três dias de Caná totaliza oito dias, ou seja, uma semana mais um dia. Este último dia é o oitavo, mas também o primeiro de uma nova semana. João iniciou o seu livro com o Prólogo que assim começa: “No princípio...” remetendo às primeiras palavras do livro de Gênesis. Com a pregação do Evangelho que começa, não por palavras e sim por um sinal, João anuncia uma nova semana, uma nova Criação. Quando chegar a hora, esta nova Criação começará no primeiro dia da semana (João 20, 1). Caná será somente um sinal de que vai chegando o tempo da Nova Criação, tempo Messiânicos.

1.2 O ministério de Jesus começa na Galiléia. Nós sabemos o que representa esta terra. É a província definida com “terra dos gentios= pagãos). De fato geograficamente a Galiléia é cercada por países não judeus: Siro-Fenícia, Traconitide, Decápole, Samaria. É nesta terra, impura, que pela primeira vez Deus, em Jesus de Nazaré, vai manifestar a sua Gloria, que é a sua Presença (João 1, 51 e 2, 11). Assim é claro que a manifestação da Glória e conseqüentemente a Salvação é universal. De Sião se espalhará por todas as Nações (Isaías 60, 1 e 3).

1.3 Foi numa festa de casamento. O casamento tanto no Primeiro Testamento como no Segundo é um símbolo forte da Aliança de Deus com o seu Povo. A imagem do casamento sustenta o amor de Deus com a sua Comunidade, às vezes simbolizada pela própria capital: Jerusalém. Assim podemos reler Isaías 62, 5 ou Oséias 2. Paulo, na sua carta aos Efésios, fará do casamento o símbolo do amor de Cristo pela sua Igreja: “Este símbolo é magnífico, e eu o aplico a Cristo e à Igreja. Cristo amou a Igreja e se entregou por ele” (Efésios 5, 32-33). Veremos como os outros símbolos do casamento como a alegria, o vinho, o mestre sala têm também significação neste texto.

1.4 “A mãe de Jesus estava lá”. Ele é a mãe do noivo; “como a coroa que lhe cingiu sua mãe, no dia do seu casamento, dia de festa do seu coração” (Cântico dos C. 3, 11). Esta presença marcante será de novo lembrada no pé da cruz de Jesus: “Junto à cruz de Jesus estava a sua mãe” (João 19, 25). A mãe de Jesus está no início e no fim da trajetória missionária de Jesus, ela presencia a sinal e a realização do casamento de Deus com o seu Povo, a Nova e definitiva Aliança pela qual deus manifestou em Jesus de Nazaré todo o seu amor: “Deus amo=u tanto o mundo que lhe enviou o seu filho único” (João 3, 16).

Mas em Caná da Galiléia a “hora ainda não chegou”, então é somente dado um sinal. A Glória de Deus, a sua Presença, se deu a ver, mas de modo limitado, até que venha a hora em que todos poderão ver e contemplar aquele que foi transpassado (João 19, 37) e reconhecer nele Aquele que vem para salvar (João 8, 27).

Daremos continuidade a esta nossa meditação das Bodas de Caná num próximo artigo. Mas, creio, que só este pequeno estudo já nos dá o valor imenso e a profundidade da mensagem joanina. É também um convite para nós relermos o texto e nós mesmos descobrirmos outras riquezas contidas nesse episódio narrado por João. O texto é fruto de uma constante contemplação da palavra, uma constante releitura feita pelas comunidades. É toda uma geração de irmãs e irmãos na fé que nos fazem assim comungar à sua vida de crentes. A nós também descobrir outras riquezas escondidas que poderão alimentar a nossa fé e vivificar a nossa vida.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A missão nasce no seio de uma comunidade...

Por: Francisco Rubeaux, omi.

Havia em Antioquia, na Igreja local...”

O mês de outubro é tradicionalmente, na Igreja Católica, dedicado às Missões: orar refletir, comprometer-se com a Missão que é a essência da vida de todo batizado e batizada: “Como o Pai me enviou, Eu também lhes envio” (João 20, 21).

Por isso a vocação à missão envolve toda a comunidade. É interessante notar que este mês das missões começa com a celebração da festa de Santa Terezinha do Menino Jesus. Ela é a padroeira das missões como dos missionários e das missionárias.

Nós não podemos deixar de evocar neste mês também a presença maternal de Maria. Ela é a primeira missionária ao levar o filho gerado nela por obra do Espírito Santo até as montanhas de Judá: “Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá” (Lucas 1, 39) Ora neste mês celebramos a festa de N.S. do Rosário, N.S. Aparecida, N.S de Nazaré Que nossa Mãe querida nos abençoe e nos dê do seu vigor missionário para nos por a caminho apressadamente, levando a Boa Nova de Jesus.

A missão sempre se origina no seio de uma comunidade, nenhum missionário é franco atirador, e sim enviado por alguém ou por um grupo.

A missão sai, em primeiro lugar, do seio da Santíssima Trindade, a maior e a melhor Comunidade. É uma decisão comum de enviar alguém, como lembra o livro do Profeta Isaías: “Quem hei de enviar? Quem irá por nós?” (Isaías 6, 8). Jesus, a Palavra encarnada, veio de junto do Pai (João 1, 1) e volta ao seu ponto de partida (João 13, 1). É como a chuva ou a neve: cai do céu, rega a terra e volta para o céu em forma de nuvem, também a Palavra é assim (Isaías 55, 10-11) epodemos acrescentar a Missão também.

É no seio da comunidade que nasce a missão (Atos 13, 1) e a esta comunidade os discípulos voltarão quando terminar sua missão (Atos 14, 27-28). A comunidade está toda envolvida com a missão dos discípulos, não é uma realização pessoal, mesmo que se trate de uma vocação pessoal. A comunidade sente a necessidade de difundir a Boa Nova e por isso envia missionários. Encontramos o mesmo exemplo em Corinto, com a pessoa de Apolo, desejoso de entregar-se à missão, foi encorajado e enviado pela comunidade (Atos 18, 24-28). A partida da segunda viagem de Paulo se dá da mesma maneira: “Paulo por sua vez escolheu Silas, e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor” (Atos 15,40). Timóteo será escolhido e apresentado a Paulo pela sua comunidade de Listra: “Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho de Timóteo. Paulo quis então que Timóteo partisse com ele.” (Atos 16, 1-3). O gesto de participação, de comunhão, é a imposição das mãos (Atos 13, 3).

Todas as viagens missionárias narradas no livro dos Atos têm o mesmo esquema: saem de uma comunidade para voltar à mesma no fim da missão. Cria-se assim um laço de comunhão não somente entre a comunidade e os que ela enviou, mas também entre a comunidade e as novas comunidades fundadas pela ação dos missionários. Essa comunhão entre as comunidades ou Igrejas locais é que dá o sentido profundo daquilo que é a Igreja Católica, espalhada por toda a terra habitada. Cada comunidade é igreja de Jesus, mas todas juntas formam a Igreja Católica, ou seja a Igreja do e no mundo inteiro.

Se a missão origina-se numa comunidade, da mesma forma a missão realiza-se de maneira comunitária. Não precisa insistir no caráter trinitário da missão de Jesus.Mas ao começar a sua missão pública Ele quis, em primeiro lugar, reunir uma equipe. O interessante é que os quatro evangelistas são unânimes a narrar logo antes do início da missão de Jesus, a sua escolha dos primeiros discípulos (Mateus 4, 18-22; Marcos 1, 16-20; João 1, 35-51).

Os Apóstolos também foram enviados dois a dois (Lucas 10,1) e voltaram junto de Jesus para contar o que aconteceu (Lucas 10,17).

Em Antioquia são dois os que foram escolhidos para levar a frente o anúncio da Palavra. Eles vão ainda levar consigo João Marcos. Quando Paulo vai se separar de Barnabé, os dois vão formar novas equipes: Barnabé com João Marcos e Paulo com Silas (Atos 15, 39-40). Em Corinto, Paulo formará equipe com um casal: Áquila e Priscila. Ele terá também como companheiros Timóteo e Silas. Podemos reler o capítulo 16 da carta aos Romanos para perceber quantos companheiros de evangelização trabalharam com Paulo, homens e mulheres (Romanos 16, 1-15 e 21).

A missão sai da comunidade e para lá volta depois de haver suscitado outras comunidades. Percebemos aqui o laço forte que existe entre missiologia e eclesiologia.

Para assumir a missão temos que estar preparado a dizer “Nós”.

Vamos refletir na nossa vocação missionária nos perguntando: qual é a minha comunidade? Como me sinto enviado por ela para a Missão? Como procuro dar retorno da missão a essa comunidade? E nossa comunidade missionária dá espaço para seus membros planejar juntos a missão e relatar como foi realizada?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Igreja Missionária, no livro dos Atos dos Apóstolos (parte 2)

(continuação da parte 1)

4. A missão é universal, porque a comunidade é aberta a todos.

É provavelmente a característica mais visível no livro dos Atos. Já vimos o versículo 8 do capítulo primeiro, que serve até de estrutura a todo o livro. A missão recebida de Jesus pelos Apóstolos é serem testemunhas dele desde Jerusalém, passando pela Judéia e Samaria e até os confins da terra. Essa divisão geográfica permite a organização do livro em três partes:

- Atos 1 a 7: a missão em Jerusalém.

- Atos 8 a 12: a missão na Judéia e na Samaria, incluindo até a Galiléia, como podemos ler em Atos 9, 31.

- Atos 13 a 28: até os confins da terra, que é a capital do Império: Roma.

Sabemos por Romanos15, 23-24, que foi a vontade de Paulo ir até a Espanha, última terra conhecida naquela época. Sempre foi o desejo dos missionários ir o mais longe possível. Paulo escrevia aos Romanos: “Não tendo mais campo para meu trabalho nestas regiões, e desejando há muitos anos chegar até vós irei quando eu for apara a Espanha". (Romanos 15, 23).

A Igreja nasce universal (=Católica). Basta reler a narração do evento de Pentecostes: “Achavam-se em Jerusalém, homens piedosos de todas as nações que há debaixo do céu: Partos, Medos e Elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia limítrofe de Cirene, Romanos adventícios, Judeus e prosélitos, cretenses e árabes.” (Atos 2, 5 e 9-10). Mas a expansão da Palavra não é somente geográfica, de fato, o anúncio da Boa Nova vai penetrando todos os diversos grupos religiosos da época:

  • após o anúncio aso Judeus, a Boa Nova, graças a Filipe, um dos Sete, chega até os Samaritanos (Atos 8, 5). Sabemos que os Samaritanos não eram bem quistos pelos Judeus, mas a Boa Nova é para eles também (Jesus não tinha iniciado essa missão com a Samaritana?).
  • após os Samaritanos a Boa Nova chega também aos Tementes a Deus (pagãos simpatizantes de fé israelita, mas que não aceitam a circuncisão é o caso de Cornélio em Atos 10 1-2 e 24-48).
  • o eunuco, pertencia a um grupo marginalizado pela religião judia, de fato o seu estado físico não lhe permitindo ser circuncidado ele era excluído da comunidade de Israel. Com a pregação de Filipe, ele se converte e é acolhido na nova comunidade, novo Povo de Deus, pelo batismo
  • por fim são os pagãos que recebem a Boa Nova: “Aqueles que haviam sido dispersos devido à tribulação sobrevinda por causa de Estêvão avançaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, a pregavam a Palavra apenas aos Judeus. Havia, contudo, entre eles alguns cipriotas e cireneus que, vindos a Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes a Boa Nova do Senhor Jesus. (Atoa 11, 19-20). Lucas vai dar ênfase a essa nova situação a partir da pregação de Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia: “ Cheios de coragem, Paulo e Barnabé declararam: era primeiro a vós (Judeus) que devíamos anunciar a Palavra de Deus. Como a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, nós nos voltamos para os pagãos.” (Atos 13, 46).

A Palavra anunciando a ressurreição de Cristo anuncia também que um novo mundo é possível. É possível se organizar socialmente a partir de novas relações econômicas, sociais, políticas e religiosas. Assim a missão não é somente anunciar, testemunhar é também construir um mundo novo, que Jesus chamava de Reino de Deus, e que podemos chamar também de novo céu e nova terra, nova sociedade...

O livro dos Atos nos mostra a transformação social operada pela Palavra nas pessoas e no seu modo de viver:

  • Economicamente os discípulos passam a viver a partilha: “Eles se mostravam assíduos à comunhão fraterna, à fração do pão... todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum... partiam o pão pelas casas.” (Atos 2, 42-47). Existe também entre as comunidades uma solidariedade nas necessidades da vida: “Os discípulos decidiram então enviar, cada um conforme as suas posses, auxílios aos irmãos que moravam na Judéia. Assim fizeram, enviando-os aos anciãos por mãos de Barnabé e Saulo.” (Atos 11, 19-20).
  • Socialmente os discípulos vivem como irmãos e irmãs. São laços fraternos que os unem numa mesma comunidade, que por isso é chamada COMUNHÃO. Por isso não tem mais distinção de raça, de cor ou de religião e nem de sexo: todos e todas são iguais e vivem a mesma responsabilidade da missão.
  • Politicamente, ou seja, na maneira de se organizar, a liderança é serviço. Nem os Apóstolos se exaltam ou procuram serem maiores do que os outros porque viram o Senhor. “No momento em que Pedro chegou, Cornélio veio ao seu encontro e, caindo-lhe aos pés, prostrou-se. Pedro, porém, o reergueu dizendo: levanta-te. Eu também sou apenas um homem.” (Atos 10, 25-26).
  • Religiosamente é claro que uma nova relação estabeleceu-se entre Deus e a Humanidade, pois pelo Espírito de Jesus todos e todas são filhos e filhas de Deus. A Boa Nova questiona também as formas religiosas da época: “Não somente em Éfeso, mas em toda a Ásia, este Paulo, com suas persuasões, arrastou uma multidão considerável, afirmando não serem deuses os que saem das mãos dos homens. Isto não só pode lançar o descrédito sobre nossa profissão, mas ainda fazer reputar por nada o santuário da grande deusa Artêmis.” (Atos 19, 23-40).

Assim podemos concluir que no livro dos Atos dos Apóstolos, a missão é uma tarefa específica da comunidade-Igreja. Ninguém pode se desinteressar pelo avanço da Boa Nova, tanto geograficamente como socialmente, nas diversas camadas populacionais e nos diversos setores da vida em sociedade. A Palavra é envolvente.

Os primeiros discípulos têm viva essa consciência, e não delegam a outros esse trabalho missionário. Todos se sentem responsáveis. Além de Pedro ou Paulo, conhecemos também Barnabé, Estêvão, Filipe, Timóteo, Silas, mas também Lídia, Dorcas. Sabemos da existência de uma comunidade cristã em Roma, desde cedo, mas ninguém até hoje sabe com precisão quem foi ou quem foram os evangelizadores da capital do Império. O próprio Paulo ao escrever a essa comunidade de Roma, lembra bom número de evangelizadores, homens e mulheres: “Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, saudai Prisca e Áquila meus colaboradores em Cristo Jesus... Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em Cristo.” (Romanos 16, 1-16).

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Igreja Missionária, no livro dos Atos dos Apóstolos (parte 1)

Por: Francisco Rubeaux, omi

A missão de Jesus continua: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio.” (João 20, 21). Lucas nos conta que Jesus Ressuscitado ficou ainda quarenta dias junto aos seus discípulos, preparando-os para a missão: “A eles mostrou-se vivo após a paixão com numerosas e indiscutíveis provas; apareceu-lhes por espaço de quarenta dias, falando-lhes do reino de Deus... O Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis a força. Serão, então, minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, a até os confins da terra.” (Atos 1, 8). Podemos constatar que a missão de Jesus continua pela ação dos Apóstolos. A Igreja que se reuni na fé no Senhor Jesus Cristo é por natureza missionária. Vamos ver como os primeiros cristãos tiveram consciência dessa dimensão no seu seguimento a Jesus.

Para melhor entender a missão como responsabilidade da Igreja, no livro dos Atos, vamos reler e tomar como referência o texto de Atos 13, 1-5. “Havia na Igreja de Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão apelidado de Níger, Lúcio de Cirene, e ainda Manaem, amigo de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. Certo dia, enquanto celebravam o culto do Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os destinei. Então, depois de terem jejuado e orado, lhes impuseram as mãos e despediram-nos. Enviados, pois, pelo Espírito S, desceram eles a Seleûcia, e dali navegaram, para Chipre. Havendo chegado a Salamina, puseram-se a anunciar a Palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham consigo, como auxiliar João.”

1. A missão é do Espírito Santo.

No passado, o livro dos Atos era chamado de “Evangelho do Espírito Santo.” Se fizermos uma pesquisa dos nomes de pessoas mais citadas no livro dos Atos, vamos descobrir que não é o nome de Pedro, nem de Paulo e sim do Espírito Santo. É Ele que está na origem da missão. Isso nos é contado na narração de Pentecostes: “Apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíram e foram pousar sobre cada um deles... Achavam-se então em Jerusalém homens piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ao se produzir o ruído, a multidão se reuniu e estava confusa: pois cada qual os ouvia falar em sua própria língua. Estupefatos e surpresos diziam: não são todos Galileus esses que falam? Como é, pois, que cada um de nós os ouve em sua própria língua materna?” (Atos 2, 3 e 58).
O Espírito Santo dá coragem para a missão: “Enquanto oravam, tremeu o lugar onde se achavam reunidos; todos ficaram repletos do Espírito Santo e puseram-se a anunciar a Palavra de Deus com firmeza” (Atos 4, 31).
O Espírito Santo orienta a missão: “Ainda estava Pedro meditando sobre a visão, quando o Espírito lhe disse: eis que aí estão alguns homens à tua procura. Levanta-te, pois, e desce, e vai com eles sem hesitação porque fui eu que os enviei” (Atos 10, 19-20).
Podemos ainda ler em Atos 16, 6-8: “Eles percorreram a Frigia e o território gálata; o Espírito Santo os havia impedido de anunciar a Palavra na Ásia. Chegando aos confins da Mísia, tentaram penetrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. Atravessaram então a Mísia e desceram a Trôade.”
O Espírito Santo é o animador da Igreja.

2. A missão é comunitária, toda a comunidade está engajada na missão.

É no seio de uma comunidade em oração que o Espírito convoca para a missão. A comunidade está atenta à ação do Espírito: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Apocalipse 2, 7).
Em sinal de participação à missão dos dois, a comunidade toda vai impor as mãos. Esse gesto é um gesto de solidariedade e de delegação para uma tarefa. Assim a comunidade tem consciência que a missão é de todos, e os dois vão em nome de toda a comunidade. Eles não são francos atiradores. Não vão para satisfazer sua vontade própria, vão mandados pelo Espírito e pela comunidade que foi atenta aos apelos do Espírito. É por isso que, ao terminar cada viagem missionária, os enviados vão voltar para a comunidade e contar tudo o que aconteceu: “Ao chegarem, reuniram a Igreja e puseram-se a referir tudo o que Deus tinha feito com eles, e como havia aberto a porta de fé aos pagãos. Permaneceram em seguida com os discípulos bastante tempo.” (Atos 14, 27-28).
Em Corinto, é de uma pequena comunidade “doméstica” que parte a evangelização da cidade: “Paulo foi para Corinto, lá encontrou um judeu chamado Áquila e sua mulher Priscila. Aliou-se a eles...” (Atos 18, 1-5).
A missão tem por objetivo formar comunidades. foi esse o resultado do trabalho missionário de Barnabé e Paulo: “Depois de ter feito orações acompanhadas de jejum, designaram anciãos em cada Igreja, e confiaram-nos ao Senhor em quem haviam acreditado”. (Atos 14, 23).
A missão parte da comunidade e volta à comunidade depois de ter suscitado novas comunidades. A missão só pode se relacionar com comunidade.

3. A missão é testemunhar e anunciar a Boa Nova: Jesus é o Cristo e está vivo.

Aos judeus os Apóstolos anunciam Jesus ressuscitado: “Saiba, portanto toda a casa de Israel, com certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes.” (Atos 2, 36).
Assim são reconhecidos os Apóstolos em Filipos: “Esses homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação”. (Atos 16, 17).
Para apoiar a verdade do que anunciam sempre os Apóstolos afirmam: disto nós somos testemunhas (Atos 2, 32; 3, 15; 5, 32; 10, 40-42).
A nova convivência que nasce da fé no Ressuscitado torna-se também testemunho: é a fé e a prática, a fé e a vida:
“A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles.
Com muita vigor, os Apóstolos davam TESTEMUNHO DA RESSURREIÇÃO do Senhor Jesus. E todos eles tinham grande aceitação.
“Não havia entre eles indigente algum, porquanto os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o dinheiro, e o colocavam aos pés dos Apóstolos, e distribuía-se a cada um segundo a sua necessidade”. (Atos 4, 32-35).
Se alguns vão levam a Boa Nova mais adiante, toda a comunidade é responsável pela missão. A missão não depende somente do desempenho dos missionários, mas também do testemunho da comunidade. Portanto a vida da Igreja também tem uma dimensão missionária.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pelos olhos, a pessoa inteira é construída ou regenerada.

Por: Francisco Rubeaux, omi



Jesus ensina aos discípulos como resgatar e humanizar as pessoas. No primeiro capítulo do seu livro do Evangelho, Marcos nos mostra como Jesus humaniza as pessoas, curando-as, libertando-as, perdoando-as, integrando-as. Antes de entrar na paixão, Jesus conclui a educação dos seus discípulos. Marcos narra isto de maneira muito sugestiva: ele insere estes ensinamentos entre duas curas de cegos: o cego de Betsaida (Marcos 8, 22) e o cego de Jericó (Marcos 10, 52). Em quanto caminham com Jesus, os discípulos aprendem como refazer e integrar a pessoa. As curas dos cegos são um evidente processo de humanização. Recuperando a vista, a pessoa inteira é recuperada, devolvida ao desígnio original de Deus.


O primeiro cego é de Betsaida, a cidade de André, Pedro e Filipe. Ele não tem nome nem referência de família. Será que a cegueira deste homem tem a ver com os discípulos?


O segundo cego chama-se Bartimeu, o que significa filho de Timeu. Ele é de Jericó. Ele está sentado na beira do caminho, este caminho que está levando Jesus para Jerusalém onde vai sofrer, morrer e ressuscitar.


É muito significativo que o texto que nos revela o maior empenho de Jesus para a formação dos discípulos esteja entre esses dois cegos. Parece que o cego de Betsaida representa a situação na qual estão os discípulos, enquanto que o cego de Jericó representa a situação para a qual os discípulos devem chegar.


O cego de Betsaida é trazido por outros para ser tocado e curado (Marcos 8, 22). As pessoas ajudam o cego a se aproximar de Jesus, são mediadoras. O cego é passivo, depende delas. Mas o cego de Jericó, quando tenta aproximar-se, é atrapalhado pelas pessoas que acompanham Jesus (Marcos 10, 47-48). Elas se comportam como atravessadoras. Bartimeu, porém, é ativo, insistente, protagonista da própria cura (Marcos 10, 48. 50). As pessoas que estão com o cego de Betsaida buscam o favor de Jesus para com ele. As que estão com Jesus em Jericó não se importam com o cego.


Nós temos que prestar atenção para o comportamento das pessoas que estão com Jesus por ocasião do encontro com Bartimeu, pois elas dificultam o encontro, quando deveriam facilitá-lo. É um comportamento estranho. Contrário ao desejo e ao ensino de Jesus, mas é um comportamento muito comum ainda hoje. Existem pessoas que se consideram muito próximas e íntimas de Jesus, atrapalhando a aproximação de outras, quando não excluindo ou selecionando quem pode e quem não pode fazer parte do círculo dos discípulos e das discípulas de Jesus. Parecem aproximar-se dele invertendo a ordem do Evangelho. Por isso é bom ter presente que o fato de estar com Jesus não nos dá direitos sobre ele. Somos discípulos/as dele, mas ele não é nosso.


O cego de Betsaida apresenta-se muito passivo. É levado pelos amigos, é conduzido e tratado por Jesus. Só responde ao que Jesus pergunta, e, curado, ele toma o caminho de casa. Para recuperar a vista é preciso tempo, de lá as diversas etapas da cura. Passo a passo, o cego é recriado


O cego de Jericó é altamente ativo, pergunta, grita, enfrenta a multidão, salta, joga a vete (manto ou capa) vai ao encontro de Jesus, recebe a cura e torna-se seu seguidor. A veste, que antes o acompanhava e protegia, é abandonada. Fica lá na beira da estrada, marcando o lugar da mudança. A veste continua lá, mas Bartimeu agora é homem do caminho, discípulo, seguidor de Jesus. Que significado tem a veste que o cego jogou? O que é necessário jogar, abandonar para abrir os olhos e seguir decididamente Jesus? O cego estava na beira do caminho, agora está com Jesus no caminho. É o caminho que conduz a Jerusalém, onde vai acontecer tudo o que Jesus anunciou. É um caminho perigoso, mas Bartimeu segue.


Parece que para seguir Jesus, não basta ter contato com ele, não basta que alguém nos coloque em contato com ele. É necessário um desejo e uma adesão pessoal e livre.