quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pelos olhos, a pessoa inteira é construída ou regenerada.

Por: Francisco Rubeaux, omi



Jesus ensina aos discípulos como resgatar e humanizar as pessoas. No primeiro capítulo do seu livro do Evangelho, Marcos nos mostra como Jesus humaniza as pessoas, curando-as, libertando-as, perdoando-as, integrando-as. Antes de entrar na paixão, Jesus conclui a educação dos seus discípulos. Marcos narra isto de maneira muito sugestiva: ele insere estes ensinamentos entre duas curas de cegos: o cego de Betsaida (Marcos 8, 22) e o cego de Jericó (Marcos 10, 52). Em quanto caminham com Jesus, os discípulos aprendem como refazer e integrar a pessoa. As curas dos cegos são um evidente processo de humanização. Recuperando a vista, a pessoa inteira é recuperada, devolvida ao desígnio original de Deus.


O primeiro cego é de Betsaida, a cidade de André, Pedro e Filipe. Ele não tem nome nem referência de família. Será que a cegueira deste homem tem a ver com os discípulos?


O segundo cego chama-se Bartimeu, o que significa filho de Timeu. Ele é de Jericó. Ele está sentado na beira do caminho, este caminho que está levando Jesus para Jerusalém onde vai sofrer, morrer e ressuscitar.


É muito significativo que o texto que nos revela o maior empenho de Jesus para a formação dos discípulos esteja entre esses dois cegos. Parece que o cego de Betsaida representa a situação na qual estão os discípulos, enquanto que o cego de Jericó representa a situação para a qual os discípulos devem chegar.


O cego de Betsaida é trazido por outros para ser tocado e curado (Marcos 8, 22). As pessoas ajudam o cego a se aproximar de Jesus, são mediadoras. O cego é passivo, depende delas. Mas o cego de Jericó, quando tenta aproximar-se, é atrapalhado pelas pessoas que acompanham Jesus (Marcos 10, 47-48). Elas se comportam como atravessadoras. Bartimeu, porém, é ativo, insistente, protagonista da própria cura (Marcos 10, 48. 50). As pessoas que estão com o cego de Betsaida buscam o favor de Jesus para com ele. As que estão com Jesus em Jericó não se importam com o cego.


Nós temos que prestar atenção para o comportamento das pessoas que estão com Jesus por ocasião do encontro com Bartimeu, pois elas dificultam o encontro, quando deveriam facilitá-lo. É um comportamento estranho. Contrário ao desejo e ao ensino de Jesus, mas é um comportamento muito comum ainda hoje. Existem pessoas que se consideram muito próximas e íntimas de Jesus, atrapalhando a aproximação de outras, quando não excluindo ou selecionando quem pode e quem não pode fazer parte do círculo dos discípulos e das discípulas de Jesus. Parecem aproximar-se dele invertendo a ordem do Evangelho. Por isso é bom ter presente que o fato de estar com Jesus não nos dá direitos sobre ele. Somos discípulos/as dele, mas ele não é nosso.


O cego de Betsaida apresenta-se muito passivo. É levado pelos amigos, é conduzido e tratado por Jesus. Só responde ao que Jesus pergunta, e, curado, ele toma o caminho de casa. Para recuperar a vista é preciso tempo, de lá as diversas etapas da cura. Passo a passo, o cego é recriado


O cego de Jericó é altamente ativo, pergunta, grita, enfrenta a multidão, salta, joga a vete (manto ou capa) vai ao encontro de Jesus, recebe a cura e torna-se seu seguidor. A veste, que antes o acompanhava e protegia, é abandonada. Fica lá na beira da estrada, marcando o lugar da mudança. A veste continua lá, mas Bartimeu agora é homem do caminho, discípulo, seguidor de Jesus. Que significado tem a veste que o cego jogou? O que é necessário jogar, abandonar para abrir os olhos e seguir decididamente Jesus? O cego estava na beira do caminho, agora está com Jesus no caminho. É o caminho que conduz a Jerusalém, onde vai acontecer tudo o que Jesus anunciou. É um caminho perigoso, mas Bartimeu segue.


Parece que para seguir Jesus, não basta ter contato com ele, não basta que alguém nos coloque em contato com ele. É necessário um desejo e uma adesão pessoal e livre.

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