Os caminhos que levam ao Salvador.
Chegou a festa dos Reis. Hoje em dia as imagens dos Reis são colocadas no presépio desde o dia de Natal, senão antes! Mas a tradição diz que eles conseguiram alcançar o lugar onde tinha nascido "o rei dos Judeus", dias depois do nascimento e depois dos pastores. Porque? Porque a festa da Epifania foi nas Igrejas do Oriente a única festa que celebrava a vinda do Filho de Deus na carne humana: sua manifestação (Epifania). Neste dia se comemorava o nascimento de Jesus, a circuncisão, a apresentação no Templo, a adoração dos Reis Magos, o Batismo no rio Jordão e até as Bodas de Caná. Todos fatos que foram a primeira manifestação do Filho de Deus na carne.
Mateus é o único evangelista que nos apresenta esta narração da adoração dos Magos. Não é reportagem de um fato histórico, é uma narração com finalidade teológica. Na literatura hebraica este procedimento chama-se "midrash": uma história do passado que o autor retoma, interpreta e atualiza para os tempos dos seus leitores. Vamos tentar descobrir algumas destas reinterpretações.
Vamos notar logo que o evangelista fala em " uns magos", nunca falou que eram rei nem que eram três. Mas a interpretação do fato à luz das Escrituras favoreceram estes detalhes. O Salmo 72 10-11 nos fala que reis de Társis, de Sabá e Seba vem se prostrar diante do rei Messias. Quanto ao Profeta Isaías, ele também descreve a universalidade do rei Messias afirmando que os reis trazem ouro, incenso. como presentes (Isaías 60, 6). Mateus falou em "ouro, incenso e mirra". Se são três os presentes então devem ser três os Reis!
Mesmo que venham do Oriente (Região da Mesopotâmia) os Magos lembram os Magos do Egito (Êxodo 8, 15). Eles reconhecem a ação de Deus nas façanhas de Moisés (é o dedo de Deus), e pedem ao Faraó deixar os hebreus sair do Egito. O coração do Faraó é endurecido. Mateus nos apresenta um rei Herodes mal intencionado, insensível à vida dos recém nascidos que ele vai mandar matar. O Faraó também tinha decretado a morte dos meninos hebreus (Êxodo 1,15). Como Moisés, Jesus conseguirá fugir da ira do rei e escapar assim da morte. E ele irá para o Egito. Mas no mesmo tempo o episodio nos remete já ao fim da vida de Jesus, quando será preso e condenado à morte. Então será utilizada a mirra para embalsamar o corpo (João 19, 39).
Vários são os caminhos que levam à pessoa do Salvador. Os escribas e doutores da Lei, pelas Escrituras, chegam a conhecer o local do nascimento (Mateus 2, 4-6). Os Magos seguem uma estrela, pois a função deles era justamente de observar os astros para definir a conduta a ser tomada pelos grandes, quer que seja no governo dos seus reinados, quer que seja nas guerras, quer que seja em assuntos particulares. Seria uma estela que haveria de indicar o líder que se levantaria do meio de Israel, predisse um outro mago, Balaão (Livro dos Números 24,17). O Messias é reconhecido e adorado pelos Magos, mas rejeitado por seu povo na pessoa dos seus líderes. Eles foram preparados durante séculos pelas palavras proféticas. Mas na hora não são capazes de reconhecer o enviado de Deus (João 1, 10-11). É esta rejeição que vai percorrer toda a vida pública de Jesus.
Tem vários caminhos para chegar até o Salvador, mas um só é o caminho de volta. Este caminho é "outro caminho..." (Mateus 2, 12). Quem encontrou a Jesus não pode mais trilhar o mesmo caminho, sua vida se transformou, é a conversão. Herodes e os escribas não foram até Jesus e, por isso, continuam no caminho da busca do poder, da violência e da dominação.
Assim a história de Mateus , narrando a adoração dos Magos, quer nos confirmar que o recém nascido, Jesus de Nazaré, é o novo Moisés, o Libertador definitivo, porque vem nos libertar a todas e todos e de tudo o que nos amarra.
A estrela conduz a Jesus e o encontro com o Salvador transforma a vida. Que a estrela possa sempre nos conduzir em nossos caminhos e transformar nossas vidas, identificando-nos ao Filho de Deus, que veio para que cada uma e cada um de nós se torne filhas e filhos de Deus,