quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ADVENTO, TEMPO DE ESPERANÇA.

O tempo de Advento nos introduz na esperança e na espera. Espera como no passado, tempo de Israel esperando o Messias: "Vem ao meu encontro... levanta-te para visitar estas nações todas" (Salmo 59, 5-6), espera do futuro "Ele há de vir para julgar os vivos e os mortos" (Símbolo apostólico) , espera no tempo presente, pois ele está sempre à porta e bate "se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo" (Apocalipse 3, 20).
Neste tempo de espera a Liturgia dos domingos destaca três pessoas, modelo de espera: Isaías, João Batista e Maria. Vamos tentar resgatar um pouco da vida de cada um para ver em que suas atitudes podem nos ajudar nós também a estarmos em estado de espera.

O PROFETA ISAÍAS
O seu nome significa em hebraico: “Javé é salvação”, do radical “yasha= ajudar, socorrer, salvar". O Profeta nasceu, provavelmente, nos anos de 760 A.C, em Jerusalém. Ele pertencia a classe alta da cidade e do Reino de Judá. Filho de Amós (Isaías 1,1, a não confundir com o Profeta Amós) a tradição rabínica conta que seu pai era irmão do rei Ozias (2º Reis 15, 1-7) ainda chamado Azarias.
Isaías conhece bem a cidade de Jerusalém e os lugares do poder: palácio, templo... ele tem suas entradas no palácio real e conhece por dentro a vida da classe alta. Ele fala com o rei num pé de igualdade. Suas duas grandes preocupações no seu ministério profético serão o templo e a dinastia davídica. Ele testemunha de uma formação nos meios sapienciais: ele usa um vocabulário sapiencial, apresenta parábolas, ele agrupa discípulos. Naquela época a classe dos “Sábios” era encarregada de dirigir os negócios do estado, eram conselheiros políticos do rei e elaboravam os planos políticos do reino.
A cena internacional desta época (segunda metade do VIII século a. C), é dominada pela ascensão de uma nova grande potência: a Assíria. Avançando para o oeste numa primeira campanha em 743 A.C a Assíria submete o reino de Israel ao tributo (2º Reis 15,19). Mas o verdadeiro plano é chegar até o Egito, anexando ao seu império todos os pequenos reinos existentes: Síria, Fenícia, Israel, Judá... O grande imperador Teglat Falasar III conseguirá chegar até o Egito sem conquistá-lo. O Egito era a outra potência dominante, mas mais fraca. Judá encontra-se entre os dois inimigos. Israel e a Síria formam uma aliança contra a Assíria, mas Judá se alia à Assíria. Esta situação vai gerar a guerra entre os dois reinos irmãos: Israel e Judá. Esta guerra será chamada “guerra siro-efraimita”.
Aliado da Assíria, Acaz se submete não somente ao Imperador, pagando tributo, mas também aceita os deuses assírios e seus costumes cultuais: "Acaz enviou mensageiros a Teglat Falasar, rei da Assíria para dizer-lhe: sou o teu servo e teu filho (2o livro dos Reis 16, 7). Narra também o mesmo livro que "Acaz não fez o que é agradável aos olhos do Senhor. Ele imitou a conduta dos reis de Israel, e chegou a fazer passar o seu filho pelo fogo, segundo os costumes abomináveis das nações (2o Reis 16, 2-4).
A situação do reino de Judá, como o de Israel, foi marcada por anos de prosperidade. Nos 50 anos de reinado de Ozias (2º Reis 15, 2), o país cresceu economicamente e desenvolveu-se uma classe rica. Como sempre quando uma parte da população enriquece a outra empobrece. Esta situação de prosperidade criou uma situação social de injustiça:
luxo e ganância dos ricos (Isaías 2, 7-8; 5. 11-13);
riquezas amontoadas a custa dos pobres (Isaías 5, 8-10; 32, 6-8);
luxo e decadência das mulheres de Jerusalém (Isaías 3, 16 a 4, 1; 32, 9-14);
mentira e violência (Isaías 1, 15-16; 3, 5-11);
Não há mais justiça nem homem honesto (Isaías 10, 1);
corrupção dos líderes, sacerdotes, profetas (Isaías 3, 12-15).
decadência religiosa: tudo é justificado pela religião (Isaías 1, 10-15; 1, 29-31;
2, 6; 2,18-20; 5, 18).
É neste contexto que se dá a vocação de Isaías como Profeta (Isaías 6, 1-13). Ele se sente revoltado diante da situação, diante dos conselheiros do rei que preferem seus planos ao plano de Deus. O próprio texto nos diz que a vocação de Isaías se dá “no ano em que faleceu o rei” (Isaías 6,1) provavelmente no ano 740 A.C. O início do livro nos informa que Isaías vai profetizar \até o reinado de Ezequias, ou seja no ano de 686 a. C, ano da morte de Ezequias. No livro apócrifo “Ascensão de Isaías” narra-se que ele foi martirizado no tempo do rei Manassés (sucessor de Ezequias). O rei mandou executá-lo com uma serra de cortar árvores.
Diante da situação em que se encontra o reino de Judá, o Profeta faz nascer uma grande esperança: virá um novo rei que trará a paz e a prosperidade para todos, ele será ungido de Deus (Messias). As profecias de Isaías a este respeito são reagrupadas nos capítulos 6 a 12 e formam o chamado "livro do Emanuel". Lá estão as esperanças do Profeta e os três grandes textos bem conhecidos de nós: 7, 14-17 (a jovem casada dará à luz); 9, 1 a 6 (o povo que andava nas trevas) e 11, 1-9 (um ramo sairá do tronco de Jessé).
As profecias que são palavra de Deus para iluminar a realidade do momento, tornaram-se profecias anunciando para o futuro um reino de paz trazido por um Messias. Cada uma reafirma que Deus está e estará sempre com o seu povo. A criança que vai nascer (Isaias 7) será chamada de Emanuel= Deus entre nós. ela receberá também os nomes de Deus forte, pai eterno, príncipe da paz Isaías 9, 5). O rebento que brota do troco de Jessé possui o Espírito de Deus na sua plenitude dos dons (Isaías 11, 1-2).
Ao reconhecer em Jesus de Nazaré o Messias esperado, os primeiros discípulos atribuíram também a Jesus estas profecias de Isaías. Jesus nasceu e recebeu o nome de Emanuel, pois ele é a presença de Deus entre nós. Ele veio como uma luz para todas as nações trazendo paz e justiça. Sobre ele repousa o Espírito Santo de Deus e mostrou pelos seus sinais que ele vinha estabelecer o reino de Deus, reestabelecendo a harmonia entre todos os seres da Criação.
No meio de todas as tribulações em que vivemos, o Profeta Isaías vem ainda nos dar esperança, nos encorajar a continuar a caminhada, pois esperar pelo Senhor, nunca é vã. O importante é se manter firmes, pois a esperança não decepciona. Escutamos ainda hoje com muita atenção o conselho do Profeta: "Se não crerem, não se manterão firmes" (Isaías 7, 9).

sábado, 12 de novembro de 2011

Dia da consciência negra.

No dia 20 deste mês de novembro lembraremos o grande líder da libertação negra: Zumbi. Ao reler a sua vida e a sua ação e a vida e ação de Moisés, é impressionante como os dois se parecem. A final uma mesma chama de fogo abrasava o coração dos dois. Esta chamaera a presença do próprio Deus da Libertação presente em suas vidas. No coração dos dois queimava e não se consumia o fogo da sarça ardente (Êxodo 3, 1-15). Possamos arder também na luta pela justiça contra a discriminação de hoje.

Dia da Consciência Negra: MOISÉS e ZUMBI.
20 de novembro de 2.011

1. Uma situação parecida:
Moisés: ler no livro do Êxodo 1, 11 e 13; 1, 15 e 16; 5, 4 a 9 e 17.
2, 1 a 10.
Zumbi: líder negro, nascido em 1655 no Quilombo dos Palmares, entre
Alagoas e Pernambuco. Foi o maior símbolo da resistência negra contra
a escravidão. Durante uma expedição contra Palmares, comandada por
Brás da Rocha, foi raptado ainda recém-nascido e entregue ao Pe. Antônio
Melo, vigário de Porto Calvo, que o criou sob o nome de Francisco.
Enquanto viveu com o Pe. Antônio Melo, foi alfabetizado, aprendeu latim e
passou a ajudar missa. Em 1670, aos 15 anos, fugiu e foi morar com o seu
povo no Quilombo dos Palmares, onde adotou o nome de Zumbi (que
significa guerreiro) e foi acolhido por uma família. Na época o Quilombo dos
Palmares era comandado por Ganga Zumba (que significa grande senhor) e
era tio de Zumbi

Em cada época e em cada ligar:
o povo está no cativeiro, lá como cá, trabalhos forçados
privação dos seus direitos fundamentais: dar a vida.
eliminação de sua cultura, muda até os nomes
imposição de outra religião: não podem ir no deserto
cultuar o Deus dos seus antepassados.

2. Dois homens em busca de libertação:
Moisés. Filho de hebreus, isto é de escravos.
Salvo pela sua mãe que não quer mata-lo.
Criado na corte real pela filha de Faraó que o recolheu.
Ele aprende a cultura do dominador e muda de nome (Moisés,
filho do deus... Nome egípcio.
Ele tem que fugir no deserto, junto aos nômades onde reaprende a viver
como seus antepassados nômades: cultura, modo de trabalhar...
Animado por Deus, ele volta ao Egito e organiza a libertação do seu povo

Zumbi. Filho de negros escravos, já fugitivos do sistema escravagista.
Raptado por inimigos do seu povo.
É criado à maneira dos brancos
Recebe a cultura dos brancos: latim ,missa,
Até muda de nome: é Francisco.
Foge para o Quilombo
Prepara a resistência, organiza a luta.

Ainda hoje, o povo vive na escravidão, mas muitas vezes não tem consciência dessa situação. Ele sofre, acha a vida dura, mas não percebe o porque, numa palavra, não é CONSCIÊNTIZADO. Consciência negra significa, consciência de ser negro e negro explorado, escravizado, consciência que se deve lutar pela liberdade e a dignidade de todas as pessoas humanas.
O que falta é tomar consciência não somente de ser negro ou mulher, mas consciência que qualquer que seja a cor, o sexo, a idade, ainda hoje milhares de pessoas vivem em condições desumanas, nem são tratadas como pessoas, consciência que essa situação só poderá mudar com o nosso engajamento, nosso compromisso, nós mesmos nos organizando para nos libertar. A libertação não vem de cima, das mãos de quem quer que seja, ela virá somente de baixo, dos que são escravizados:

“Eu acredito que o mundo será melhor,
quando o menor que padece acreditar no menor”.

“Quem gosta da gente, somos nós,
e quem, vem nos ajudar”.